Construção de sentidos sobre vida de qualidade por agricultoras familiares

Abstract

Resumo: O conceito de qualidade de vida tem sido amplamente utilizado como fator de avaliação nas áreas de saúde e bem-estar social. A partir da década de 1990, questionamentos sobre a visão de saúde ampliada enriqueceram a discussão sobre o que significa ter uma vida de qualidade. Atualmente, a Organização Mundial da Saúde compreende que o conceito tem multiplicidade de sentidos, depende de inúmeros fatores e é subjetivo. No entanto, foram desenvolvidos instrumentos para medir a qualidade de vida das pessoas. Assim, o nível de qualidade de vida passou a ser fator importante para a avaliação de programas governamentais e outros. Este estudo qualitativo de base construcionista social teve por objetivo construir novos sentidos sobre vida de qualidade com um grupo de 5 mulheres da agricultura familiar da mesorregião noroeste do Paraná. O discurso das mulheres, denominado Vida de Qualidade, foi analisado e comparado ao discurso científico de Qualidade de Vida. Foram estabelecidos semelhanças, diferenças e especificidades dos discursos. O estudo foi desenvolvido em dois momentos de interação com o grupo. O primeiro com entrevistas individuais e o segundo, um encontro conjunto, em que foram discutidos os temas mais recorrentes sobre o que as mulheres disseram ser uma vida de qualidade. Concluímos que, apesar de os discursos das mulheres apresentarem semelhanças com o que prevê a literatura científica sobre o tema, há inúmeras questões apontadas pelo grupo que ainda não são consideradas nos instrumentos tradicionais. Vida de qualidade para as mulheres envolvidas na pesquisa pressupõe visibilidade, autonomia, confiança, independência financeira e investimento em si mesmas. Há, portanto, um afunilamento do sentido de "ser mulher" para as agricultoras, já que essa identidade se fundamenta basicamente na prática dos cuidados familiares, apesar de apresentarem pontos positivos em relação ao fato de viverem e produzirem no campo. Espera-se que este trabalho possa contribuir com a produção de novas realidades para as mulheres agricultoras, no sentido de torná-las autoras de suas narrativas. Além disso, pretende-se problematizar questões como a invisibilidade e a violência de gênero no campo na para a avaliação da qualidade de vida da população rural

Abstract: The concept of quality of life has been widely used as an evaluation factor in health and social welfare. From the 1990s discussions about expanded health vision enriched the discussion about what it means to have a quality life. And so, the concept of quality of life also suffered reformulations. Currently, the World Health Organization understands that the concept has multiple meanings, depends on multiple factors and is subjective. However, instruments have been developed for the assessment of quality of life. The level of quality of life has become an important factor for evaluating government programs and others. This study, qualitative bosed on social constructionist, aimed to build new meanings for quality of life with women of small farmer northwest middle region of Paraná. As well as questioning from the analysis of their discursive practices, gender issues that underlie their assessment on the subject. The study included five women farmers, who gave individual interviews. In addition to a joint meeting where the most recurrent themes were discussed about what the women said to be a quality of life, still producing new meanings. Meaning construction were described and discussed by the researcher with a focus on gender issues, based on social constructionism. We conclude that despite the women's discourse bears some resemblance to what provides the scientific literature on the subject, there are numerous issues that are no longer considered in traditional instruments. Quality of life for women refers to visibility, autonomy, confidence, financial independence, and investment in itself. This however does not represent the reality of them, who give personal dreams justifying this stance by the love of family, work and others. Therefore, there is a bottleneck of the sense of "being a woman" for farmers, since the identity is based primarily on the practice of family care. It is hoped that this work can contribute in the production of new realities for women farmers in order to make them authors of their narratives. In addition to discuss issues such as invisibility and gender violence in the field in the evaluation of the rural population quality of life