Da psicologia de sujeitos à psicologia para o indivíduo : reflexões existenciais

Abstract

Resumo: Esta pesquisa tem por objetivo problematizar o espírito do nosso tempo, investigando de que forma a Psicologia tem fomentado a eleição do individualismo como modo de vida contemporâneo. Para tal, foi realizado estudo bibliográfico a partir de autores contemporâneos que se dedicaram à análise do fenômeno do individualismo, cujas considerações foram analisadas a partir da filosofia existencial proposta por Sartre. A análise de eventos cotidianos e dos embates diários como psicóloga clínica também forneceram elementos para o deslinde das reflexões. Partindo da sistemática cartesiana, em momento de inauguração da Idade Moderna, este estudo percorre o caminho histórico de instauração das normativas modernas que, mais tarde, foram radicalizadas pelas ciências, inclusive pela Psicologia, estabelecendo um caráter disciplinador em suas práxis. O desenvolvimento das técnicas de testagem e diagnóstico certificaram o poder regulamentador da Psicologia e assujeitaram o homem ao saber psi (Psicologia de Sujeitos). A ciência psicológica aparece, portanto, relacionada a uma série de questões de ordem social, empenhada em forjar a ideia de indivíduo adaptado socialmente, detentor de uma subjetividade privatizada (Psicologia para o Indivíduo). As vertentes empiricistas da Psicologia instrumentalizaram-se a partir da formatação que a ciência moderna pretendeu fazer do homem, e esteve cingida ao entendimento limitado que detinha deste. Essas discussões relativas à materialização da Psicologia científica foram traçadas em paralelo à um diagnóstico do contemporâneo, deste zeitgeist que revela um homem autocentrado, com uma visão romântica do eu, tomado como centro de referência fundamental, tanto para si quanto para a Psicologia. Tendo a Filosofia da Existência como abordagem de referência, a última parte deste trabalho foi destinada à apresentação de propositivas para a atuação da Psicologia, que corrobore com a construção de um novo repertório social de resistência frente aos dispositivos de subjetivação, atualmente ressoado no individualismo. Conclui-se que o estabelecimento de um novo zeigeist, menos individualista, deverá partir do próprio indivíduo e que as práticas psicológicas de base existencialista podem ser um importante mediador deste processo

Abstract: This research aims to discuss the spirit of our time, investigating how psychology fosters the individualism as way of life in contemporary times. For this purpose, bibliographical study was carried out from contemporary authors who dedicated themselves to the analysis of the phenomenon of individualism. Their considerations were analyzed from the existential philosophy proposed by Sartre. The analysis of day by day events and of the daily struggles as a clinical psychologist also provided elements for those reflections. Starting from the Cartesian systematic at the opening of the Modern Age, this work walks through the historical path of the introduction of the modern regulations that, later on, were radicalized by science, including Psychology, establishing a disciplinary character of its practice. The development of techniques for testing and diagnosis certified the regulatory power of Psychology, once it subjects the man to the psi knowledge (Psychology of Individual). The psychological science, therefore, appears related to innumerous social issues, committed to forge the idea of socially adapted individual, holder of a privatized subjectivity (psychology for the individual). The psychological empiricist approaches outlined a knowledge that operationalized the definition which modern theory intended to do to man, restricted to the limited knowledge that it had of man. Those arguments related to the materialization of scientific Psychology were outlined at the same time of a contemporary diagnosis, of this zeitgeist that reveals a self-centered man, with a romantic vision of itself, made a fundamental center of reference, to itself and for Psychology. Having Existential Philosophy as the reference approach, the last part of this study was intended to present propositions for the Psychology’s work, that helps building a new social repertoire of resistance against the subjectivation devices, currently resonated on individualism. In conclusion, the creation of a new zeitgeist, less selfish, must begin with the individual and the psychological practices with existential bases can be a great mediator to this process