Terra seca, guerra fria : as forças políticas nordestinas sob a aliança para o progresso (1961-1964)

Abstract

RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo examinar como a Aliança Para o Progresso, programa de investimento estadunidense para o desenvolvimento da América Latina, atuou no sentido de fornecer às forças políticas do Nordeste subsídios para o combate a movimentos sociais do campo, sobretudo as Ligas Camponesas, e adversários políticos considerados ameaças aos interesses estadunidenses na região. Após a Revolução Cubana de 1959 e o subsequente alinhamento do país com a União Soviética, a chegada do socialismo ao hemisfério ocidental provocou um abalo sísmico na proeminência do bloco capitalista no contexto da Guerra Fria. A pobreza estrutural e a forte desigualdade, sobretudo no campo, teriam, junto ao nacionalismo castrista, sido os motivos que levaram os revolucionários a agir. Tendo isso em vista, a Aliança Para o Progresso foi criada pelo governo de John F. Kennedy em 1961 para desenvolver os países latino-americanos, atrelá-los à dinâmica do capitalismo mundial e, com isso, reduzir o abismo entre pobres e ricos por meio de reformas pontuais distantes de radicalismos. Sendo o Nordeste um bolsão de pobreza na região, a atenção do projeto se voltou sobremaneira a este território brasileiro cujas especificidades históricas geraram forças políticas peculiares. A hipótese norteadora deste trabalho foi a de que a dinâmica resultante disso gerou uma mudança na relação paternalista entre o Estado brasileiro e estas forças, transferindo-o para os EUA que, neste sentido, encontrava barreiras ao seu projeto "americanista" localizadas nas estruturas sociais atrasadas que persistiam sobretudo no interior. Por meio da análise de documentos diplomáticos remetidos ao Department of State por cônsules e embaixadores situados no Brasil, adquiridos por meio do Opening The Archives Project, foi possível observar as nuances deste processo.

ABSTRACT: The present work aims to examine how the Alliance for Progress, an American investment program for the development of Latin America, worked to provide the political forces of the Northeast with subsidies to combat social movements in the countryside, especially the Peasant Leagues, and other political opponents considered leftists. After the Cuban Revolution of 1959 and that country's alignment with the Soviet Union soon after, the arrival of socialism in the Western Hemisphere disturbed the predominance of social models favorable to the interests of the United States and tainted its influence, causing a constriction in the prominence of its sphere of influence in the Cold War context. According to Alliance for Progress logic, structural poverty and strong inequality, especially in the countryside, along with Castro’s interventionism, would have been adequate to provoke revolutionary acts. With this in mind, the Alliance for Progress created missions to aid Latin American economic development, increasing the region’s links to the dynamics of world capitalism, believing this would help reduce the chasm between rich and poor through ad hoc reforms that side-stepped radical extremism. As a pockets of poverty in the region, the Alliance's attention turned sharply toward the Brazilian Northeast region, whose historical specificities generated peculiar political forces? The present thesis argues that the resulting dynamics generated a change in the paternalistic relationship between the Brazilian State and these forces, transferring the paternalist role to the United States, which found barriers to its "Americanist" project located in social structures that persisted mainly in the region’s vast interior. Through the analysis of diplomatic documents sent to the Department of State by consuls and ambassadors located in Brazil, available for analysis through the Opening: the Archives Project, it was possible to observe the nuances of this process.