Evidenciação dos riscos socioambientais do sistema cooperativista Sicredi, à luz da teoria dos Stakeholders

Abstract

RESUMO: A Responsabilidade Social Corporativa (RSC) e a Teoria dos Stakeholders demandam que as Instituições Financeiras satisfaçam, equitativamente, o (i) crescimento econômico, (ii) qualidade ambiental e (iii) igualdade social (TBL) devido seus impactos socioambientais diretos e indiretos, o que abarca a evidenciação dos riscos socioambientais. A partir de 2015, devido a Resolução 4327/2014 do Banco Central do Brasil (BACEN) as Instituições Financeiras devem evidenciar o risco socioambiental aos stakeholders. Ressalta-se que as cooperativas de crédito possuem especificidades em relação às demais Instituições Financeiras: a) são orientadas para a satisfação dos cooperados, b) as sobras são revertidas aos cooperados, c) são constituídas por pessoas e não por Ações, d) democracia nas deliberações, e) igualdade no tratamento aos cooperados e f) inexistência de barreiras discriminatórias para a adesão. À vista disso destaca-se a atuação do Sistema Cooperativista Sicredi (Sicredi), o qual estabeleceu um planejamento (2016-2020) com 3 objetivos: 1) engajamento com os stakeholders; 2) gestão do risco socioambiental; e 3) RSC. Desse modo, o objetivo do estudo foi investigar como o Sicredi evidenciou os riscos socioambientais. Os procedimentos metodológicos foram: análise de conteúdo (relatórios compulsórios e voluntários, entrevista com um superintendente do Sicredi e entrevista com um supervisor do BACEN) e triangulação. Os resultados apontaram que os riscos socioambientais diretos foram os mais evidenciados (econômico, social e ambiental) e não foram evidenciados riscos socioambientais aos Fornecedores, contrapondo perspectivas teóricas. Quanto aos stakeholders mais recorrentes, destacaram-se os Cooperados, seguido dos Funcionários, Governo, Comunidade e a Mídia. Na análise dos resultados foram obtidas evidências de que a evidenciação dos riscos socioambientais foi imbricada por práticas de RSC, demanda engajamento dos stakeholders e que a Resolução 4327/2014 é de caráter subjetivo. Inferiu-se que a evidenciação dos riscos socioambientais foi considerada prática de RSC (pode diminuir a exposição do Sicredi aos riscos e auxiliá-lo a cumprir sua função social de disseminar boas práticas de sustentabilidade), ademais, propiciou engajamento com os stakeholders. Constatou-se que a identificação do perfil dos stakeholders (engajamento com os stakeholders) é uma forma de mitigar os riscos socioambientais. Outras inferências desse estudo foram que as especificidades das cooperativas de crédito influenciaram no gerenciamento de riscos socioambientais e que a Resolução BACEN nº 4327/2014 demandará evolução da Contabilidade, como o registro de perdas financeiras oriundas de variáveis sociais e ambientais. As principais limitações foram devido a pesquisa qualitativa, aos documentos, escolha do caso por conveniência e ao tema investigado. A característica pioneira dessa pesquisa foi uma contribuição prática para as cooperativas de crédito, diretores, reguladores e supervisores das Instituições Financeiras, pois poderá auxiliar a evidenciação e gerenciamento dos riscos socioambientais. Como contribuições teóricas tem-se a discussão da RSC, da Teoria dos Stakeholders e dos riscos socioambientais nas cooperativas de crédito. Ainda, citam-se contribuições práticas à sociedade, pois materialização dos riscos socioambientais ocasiona perdas financeiras aos cooperados, Sistema Financeiro Nacional e à sociedade. A originalidade da pesquisa consistiu em abordar simultaneamente as cooperativas de crédito e os riscos socioambientais.

ABSTRACT: The Corporate Social Responsibility (CSR) and Stakeholders Theory demand that Financial Institutions satisfy, equally, (i) economic growth, (ii) environmental quality and (iii) social equality (TBL) due to their direct and indirect social and environmental impacts, which includes the disclosure of social and environmental risks. After 2015, due the Resolution 4327/2014 of the Central Bank of Brazil (BACEN), the Financial Institutions should disclosure the socio-environmental risk. It should be emphasized that credit unions have their specifics in relation to the other Financial Institutions: a) they are oriented to the satisfaction of the members, b) the surplus is reverted to the members, c) are made up of people and not stocks, d) democracy in the deliberations, e) equality in the treatment of members and f) lack of discriminatory barriers to membership. In view of this, stands out the Sicredi’s Cooperative System (Sicredi) atuation, which established a plan (2016-2020) with three objectives: 1) engagement with stakeholders; 2) socio-environmental risk management; and 3) CSR. Due to this, the aim of the study was to investigate how Sicredi disclosured socioenvironmental risks. The methodological procedures were: content analysis (compulsory and voluntary reports, interview with a Superintendent of Sicredi and interview with a Supervisor of BACEN) and triangulation. The results showed that the direct socio-environmental risks were the most disclosured (economic, social and environmental) and no socio-environmental risks were disclosured to Suppliers, opposing theoretical perspectives. As for the most recurrent stakeholders, the Members, the Employers, Government, Community and the Media. In the analysis of results, evidence was obtained that the disclosure of socio-environmental risk was imbricated by CSR practices, demanded stakeholder engagement and that Resolution 4327/2014 is of a subjective nature. It was inferred that the disclosure of socio-environmental risks was considered a CSR practice (it can reduce Sicredi's exposure to risks and help it fulfill its social function of disseminating good sustainability practices), in addition, it provided an engagement with stakeholders. It was verified that the identification of the profile of the stakeholders (engagement with stakeholders) is a form to mitigate socio-environmental risks. Other inferences of this study were that the specificities of credit unions influenced the management of social and environmental risks and that BACEN Resolution 4327/2014 will require Accounting evolution, such as the recognition of financial losses arising from social and environmental variables. The main limitations were due to qualitative research, to documents, to case’s choice (for convenience) and to the researched topic. The pioneering feature of this research was a practical contribution for the credit unions, directors, regulators and supervisors of the Financial Institutions, because it could help in the disclosure and management of social and environmental risks. As theoretical contributions are the discussion of CSR, Stakeholder Theory and social-environmental risks in credit unions. Also, practical contributions are mentioned for the society, due the materialization of socio-environmental risks causes financial losses to the credit unions, National Financial System and to society. The originality of the research was to address both credit unions and socio-environmental risks.