A espetacularização do sujeito com deficiência em discurso no domínio cinematográfico : dispositivo, normalização e biopolítica

Abstract

RESUMO: Em continuidade às nossas pesquisas anteriores, esta tese privilegia o investimento discursivo cinematográfico sobre o sujeito com deficiência na contemporaneidade. Filiando-nos aos pressupostos teórico-metodológicos erigidos por Michel Foucault, tal como têm se desenvolvido no Brasil, tomamos as produções fílmicas como lugares de enunciação, cuja função de existência possibilita construir percursos temáticos que trazem à tona dispositivos e configurações significantes que produzem sentidos sobre o sujeito com deficiência e promovem sua normalização na configuração social e política contemporânea. As materialidades que compõem o corpus de pesquisa são quatro documentários exibidos no festival Assim Vivemos (2007) e dois longas-metragens; o filme francês Intochables (Br: Intocáveis, 2011) e a produção brasileira Colegas (2012). O trabalho parte da possibilidade de considerar que (i) o discurso cinematográfico, ao promover as condições para o exercício do olhar a deficiência, gerencia o processo de transformação do ordinário para o cinematográfico, em que se colocam em jogo a luta pela construção de verdades e que (ii) o dispositivo discursivo investe, no campo cinematográfico, em uma maquinaria política de produção de subjetividades e de normalização, sustentada pela transição de uma discursividade de "anormalidade" para uma "normalidade parcial produtiva". Desse modo, tem-se como objetivo geral compreender o modo como o dispositivo da espetacularização da intimidade do corpo com deficiência, a partir de amostras de histórias, de necessidades e de afetos, organiza a prática discursiva cinematográfica contemporânea e coloca em funcionamento jogos enunciativos, a partir de uma conduta ética no campo individual, social e político. O gesto analítico empreendido possibilitou a confirmação das hipóteses e revelou que a dispersão dos corpos com deficiência, materializados nos filmes, forma uma unidade discursiva a partir de sua produtividade, enquanto possibilidade de agir socialmente. Essa produtividade se dá na ruptura das subjetividades, que denuncia uma emergência discursiva do governo de si para a produção e validação de verdades e, consequentemente para o exercício da biopolítica. Isso porque esses saberes funcionam como estratégias discursivas que atendem a uma demanda da política contemporânea, que consiste em colocar o sujeito com deficiência na cadeia produtiva social

RESUMÉ: Dans la continuité de notre recherche précédente, cette thèse met l'accent sur l’investissement discursif cinématographique sur le sujet avec un handicap dans le contemporanéité. En nous affiliant aux présupposions théoriques-méthodologiques érigées par Michel Foucault, comme l'ont développé au Brésil, nous avons pris les productions filmiques comme les lieux d'énonciation, dont la fonction d’existence permet la construction des cours thématiques qui apportent aux dispositifs et aux configurations significatives qui produisent des significations à propos sur le sujet handicapés et promouvoir leur normalisation dans la configuration sociale et politique contemporaine. Les matérialités qui composent le corpus de recherche sont quatre documentaires projetés au festival Assim Vivemos (2007) et deux longs métrages : le film français Intochables (2011) et la production brésilienne Colegas (2012). Le travail part des hypothèses que (a) le discours cinématographique, en promouvant les conditions pour l'exercice de la recherche au handicap, gère le processus de transformation ordinaire pour le cinématographique, dans lequel ils mettent en jeu la lutte pour la construction de vérités et (b) le dispositif discursif investit dans les machines politiques de production de subjectivités et de normalisation, soutenu par la transition à partir d'un discours de l’ «anomalie» pour une «normalité partielle productive ». De cette façon, on a comme l’objectif général de comprendre comment le dispositif de l'intimité du corps handicapés, laissant les échantillons des histoires, des besoins et ses émotions, organise la pratique discursive cinématographique contemporaine et installe des jeux d'énonciation, à partir d'une conduite éthique dans le domaine individuel, social et politique. Le geste analytique entrepris a permis la confirmation de l'hypothèse et a révélé que la dispersion des corps handicapées matérialisés dans les films forment une unité discursive de sa productivité, tout en étant capable d'agir socialement. Cette productivité se sent dans la rupture des subjectivités, qui dénonce un cas d’émergence discursif du gouvernement de soi pour la production et la validation des vérités et par conséquent pour l'exercice de la biopolitique. En effet, cette connaissance fonctionne comme des stratégies discursives qui répondent à une demande de la politique moderne, qui consiste à placer le sujet handicapé dans la chaîne de production sociale