Ordenação social e trabalho no libro de las confesiones de Martín Pérez (1316)

Abstract

Nesta dissertação discutimos o conceito de trabalho e a concepção de ordem social presentes no Libro de las confesiones, escrito por volta de 1316 pelo clérigo salman-tino Martín Pérez. Buscamos compreender o quadro de relações sociais e de produ-ção no reino de Castela no início do século XIV. Existem duas edições da obra de Martín Pérez, uma em espanhol – coordenada por Antonio García y García em 2002, e outra em português – editada por José Barbosa Machado e Fernando Alberto Torres Moreira em 2013. Esta edição portuguesa é feita a partir dos manuscritos existentes em língua Portuguesa, dentre os quais nenhum contém a segunda parte original da obra de Martín Pérez, exatamente a que contém o objeto de discussão desta disser-tação, o que nos impeliu a uma maior utilização da edição espanhola que, recorrendo a todos os manuscritos disponíveis, sejam em Português ou Espanhol, contém esta parte, na qual o autor trata dos pecados relativos aos estados sociais e profissões. Para a análise do contexto social e político de Castela no século XIV, recorremos a Paulino Iradiel Murugarren (1989) e García Cortázar (1973). Destacamos, também, o contexto de produção, bem como a organização da cultura e seus agentes, recor-rendo, principalmente, a José Manuel Nieto Soria e Iluminado Sanz Sancho (2002). A tipologia da fonte e sua historicidade foram abordadas em diálogo com Thomas McNeil (1923), Oscar Watikins (1920), Michaud Quantin (1959), Roberto Rusconi (1984) e José Maria Soto Rábanos (2006). O conceito de trabalho e ordem social foram abordados com recurso a Georges Duby (1989), Jacques Le Goff (2015), Her-bert Applebaum (1994) e Birghit Van den Hooven (1996). Observamos que o conceito de trabalho para Martín Pérez apresentava-se com uma apreensão de diversos as-pectos do esforço individual, tendo em vista os horizontes da salvação. As categorias de ofícios e estados sociais apareceram como acessórios à definição e adaptação do conceito de trabalho. Este, não aparece, exclusivamente, como um recurso à salva-ção. Diferentemente da literatura religiosa que tratara do tema na Alta Idade Média, ele tem um sentido maior do que o de um esforço penitencial exercido pelos laborato-res para o expurgo dos pecados de todos. Era o esforço de cada indivíduo no interior de seu estado social para sua sobrevivência e salvação.

In this dissertation we are going to discuss the concept of labor and the notion of social order in the Libro de las confesiones, written around the year 1316 by Martín Perez a cleric from Salamanca. We look forward to understanding the frame of social relations and production in the kingdom of Castile by the beginning of the 14th century. Two editions of Martín Pérez’s work exist: a Spanish version, edited by Antonio García y García in 2002, and a Portuguese version, edited by José Barbosa Machado and Fer-nando Alberto Torres Moreira in 2013. The Portuguese editors based their work in the existing Portuguese manuscripts, none of which includes the original second part of Martín Perez text, specifically the section with includes this dissertation’s main object. By such reason we gave a higher focus to the Spanish edition that, while using all available manuscripts, be it in Portuguese or in Spanish, contain the part comprising the authors comments on the sins related with social stratification and professions. For the analysis on the social and political contexts of 14th century Castille, we are going to dialogue with authors such as Paulino Iradiel Murugarren (1989) and Jodé Ángel García Cortázar (1973). We highlight the context of production and cultural arrange-ment alongside with its agents while recurring mostly to José Manuel Nieto Soria e Iluminado Sanz Sancho’s (2002) work. The specificities of the document and its histo-ricity were dealt with the works of Thomas McNeil (1923), Oscar Watikins (1920), Michaud Quantin (1959), Roberto Rusconi (1984) and José Maria Soto Rábanos (2006). The concepts of Labor and social order were discussed with Georges Duby (1989), Jacques Le Goff (2015), Herbert Applebaum (1994) and Birghit Van den Hooven (1996). We reached the conclusion that the concept of labor was presented by Martin Pérez as an apprehension of diverse aspects of individual effort, with the main purpose to reach salvation.The categories of crafts and social strata appeared as aids to the definition and adaptation of the concept of labor. This concept does not appear exclusively as a recourse to salvation. Alternatively to the religious literature regarding this theme in the High Middle Ages, it acquires a broader sense than a pen-itential effort by the Laboratores regarding the purge of all humanity’s sins. It was each person’s necessary effort inside their own social strata for its survival and salvation.