Intervenção trans/formativa : construindo e implementando uma ferramenta para a aprendizagem organizacional baseada na teoria da atividade histórico-cultural e na psicologia da libertação

Abstract

As organizações estão constantemente interessadas em formas de adaptar recursos materiais e humanos de modo que lhes garanta sobrevivência. Neste contexto, a Aprendizagem Organizacional, voltada à gestão dos chamados recursos humanos, apresenta-se como uma temática que tem incorporado múltiplas perspectivas, provenientes de diferentes áreas do conhecimento, na tentativa de compreender, mensurar e estimular a aprendizagem nos diferentes ambientes organizacionais. A partir desse campo multidisciplinar, o presente estudo desenvolveu o tema da Aprendizagem Organizacional, mais especificamente preocupado com uma metodologia que fosse capaz de provocar um movimento de aprendizagem que não contemplasse tão somente a mudança organizacional, mas também os sujeitos que aprendem, pensando uma metodologia que, além de causar mudanças por meio de um grupo, pudesse também causar mudanças no próprio grupo. Principalmente pelo fato de compreender a aprendizagem como algo que vai além da capacidade cognitiva, uma vez que depende também das interações com os pares, a Teoria da Atividade Histórico-Cultural, iniciada pelo bielo-russo Lev Vygotsky (1896-1934), tendo como principais conceitos a mediação cultural, o princípio da estimulação dupla e o ciclo de aprendizagem expansiva, foi utilizada como base teórica e metodológica para este estudo. No entanto, como forma de adaptá-la ao contexto brasileiro, buscou-se apoio na Psicologia da Libertação, vertente da Psicologia Social Comunitária Latino-Americana, por meio de categorias que pudessem contribuir sobretudo com o perfil dos sujeitos de pesquisa. Neste sentido, com base no que Ignacio Martín-Baró, principal nome da Psicologia da Libertação, acreditava ser o meio para se iniciar um processo libertador - o fortalecimento das instâncias populares, operacionalizado por meio de três tarefas essenciais: recuperação da memória histórica; resgate das virtudes populares e "desideologização" da experiência cotidiana - novos elementos foram incorporados no estudo de maneira que pudessem contribuir com a Teoria da Atividade Histórico-Cultural. Como procedimento metodológico foi implementada uma Intervenção Trans/formativa, inspirada na metodologia própria da Teoria da Atividade Histórico-Cultural chamada Laboratório de Mudança, uma meta-ferramenta considerada como uma versão simplificada da Metodologia de Pesquisa para o Desenvolvimento do Trabalho (PDT). A Intervenção Trans/formativa foi composta basicamente por observações não participantes, entrevistas, análise documental, sessões em grupo fundamentadas no ciclo de aprendizagem expansiva, em que foram trabalhadas tanto a atividade de limpeza, quanto a história, virtudes e "desideologização" das experiências cotidianas. O grupo dos sujeitos de pesquisa foi composto, predominantemente, por zeladoras terceirizadas de uma instituição pública de ensino superior. Neste sentido, o objetivo do presente estudo foi compreender como se dá a construção e implementação da Intervenção Trans/formativa com um grupo de zeladoras terceirizadas, como possibilidade a um movimento de aprendizagem voltado tanto para a transformação da atividade quanto para o fortalecimento dos sujeitos. A experiência revelou um grupo de mulheres que ocupam uma profissão reservada a pessoas com baixa escolaridade, que compreendem a limpeza como um modo de vida e que adotam práticas bastante personalizadas. Revelou também que a instituição de ensino, local de trabalho desse grupo, é uma instituição que deseja cumprir normas de economia e sustentabilidade, mas que vivencia sérias contradições, o que dificulta o alcance desse objetivo. Quanto a construção e a implementação da ferramenta, além de representar um desafio para o intervencionista, mostrou-se capaz de estimular uma aprendizagem com vistas a uma solução organizacional. Em relação ao fortalecimento do sujeito, resultados concretos não foram detectados, justamente porque tanto aprendizagem, quanto libertação são processuais, porém, foi possível notar indícios de uma mudança no comportamento do grupo. Além disso, é possível afirmar que a ferramenta conseguiu promover espaços dialógicos e problematizadores que podem significar uma potencialidade de fortalecimento dos sujeitos

Organizations are constantly interested in ways of adapting material and human resources to ensure survival. In this context, Organizational Learning, focused on the management of socalled human resources, presents itself as a theme that has incorporated multiple perspectives, coming from different areas of knowledge, in an attempt to understand, measure and stimulate learning in different organizational environments. From this multidisciplinary field, the presente study developed the theme of Organizational Learning, more specifically concerned with a methodology that was capable of provoking a learning movement that not only contemplated the organizational change, but also the subjects that learn, thinking a methodology which, in addition to causing change through a group, could also cause changes in the group itself. Mainly because it understands learning as something that goes beyond cognitive ability, since it also depends on interactions with peers, the Cultural-Historical Activity Theory, initiated by Belorussian Lev Vygotsky (1896-1934). main concepts of cultural mediation, the principle of dual stimulation and the expansive learning cycle, was used as a theoretical and methodological basis for this study. However, as a way of adapting it to the Brazilian context, it was sought support in the Psychology of Liberation, a branch of Latin American Community Social Psychology, through categories that could contribute mainly to the profile of the research subjects. In this sense, based on what Ignacio Martín-Baró, the main name of Liberation Psychology, believed to be the means to initiate a liberating process - the strengthening of popular instances, operationalized through three essential tasks: recovery of historical memory; rescue of the popular virtues and "de-ideologization" of everyday experience - new elements were incorporated in the study in a way that could contribute to the Theory of Historical-Cultural Activity. As a methodological procedure a Trans / Formative Intervention was implemented, inspired by the methodology of the Historical-Cultural Activity Theory called the Laboratory of Change, a meta-tool considered as a simplified version of the Research Methodology for Work Development (PDT). The Trans / Formative Intervention was basically composed of non-participant observations, interviews, documentary analysis, group sessions based on the expansive learning cycle, in which both the cleaning activity and the history, virtues and "deideologization" of daily experiences were worked. The group of research subjects was predominantly composed of outsourced caretakers from a public institution of higher education. In this sense, the objective of the present study was to understand how the construction and implementation of the Trans / Formative Intervention with a group of outsourced caretakers is given as a possibility to a learning movement geared both to the transformation of the activity and to the strengthening of the subjects. The experience has revealed a group of women occupying a profession reserved for people with low schooling, who understand cleanliness as a way of life and adopt very personalized practices. He also revealed that the educational institution, the workplace of this group, is an institution that wishes to comply with economic and sustainability standards, but which experiences serious contradictions, which makes it difficult to reach this goal. Regarding the construction and implementation of the tool, besides being a challenge for the interventionist, it was able to stimulate learning with a view to an organizational solution. Regarding the strengthening of the subject, concrete results were not detected, precisely because both learning and liberation are procedural, but it was possible to notice evidence of a change in the behavior of the group. In addition, it is possible to affirm that the tool has succeeded in promoting dialogical and problematizing spaces that can mean a potential for strengthening the subjects