De in-goal a in-goal : a trajetória de mulheres no rugby no Brasil

Abstract

RESUMO: A participação das mulheres no esporte e as questões de gênero que permeiam este campo têm se tornado tema de muitas discussões, principalmente nos esportes de contato. O Rugby, considerado um esporte não adequado para as mulheres, tem sido reputado com a antítese da feminilidade. No Brasil, onde ainda é pouco conhecido, o Rugby já foi proibido pois acreditava-se que masculinizava as mulheres. Desta forma, o objetivo deste estudo foi analisar quais os elementos que marcaram a trajetória esportiva de atletas e ex-atletas mulheres da Seleção Brasileira de Rugby. A hipótese é de que o preconceito de gênero era o principal marcador dessa trajetória. Para isso, foram entrevistadas 10 atletas mulheres que participam ou participaram da Seleção Brasileira de Rugby Sevens. As entrevistas, baseadas em um roteiro semi-estruturado e realizadas no segundo semestre de 2017, foram gravadas, transcritas e analisadas por meio da Análise de Conteúdo de Bardin (2011). Como resultado, verificou-se que as atletas iniciaram sua participação no Rugby por meio do convite de amigos/as e familiares, sendo atraídas por seus valores e características de jogo. O apoio das equipes, os desafios, os objetivos delimitados, os amigos e as viagens foram fatores determinantes para que as atletas se motivassem a jogar Rugby, elencando a participação em campeonatos com a seleção e uma convocação como o momento mais marcante de suas carreiras. Elas reportaram como dificuldades questões financeiras, lesões, problemas com o técnico e em conciliar horários de treino e estudos, sendo estes os principais fatores desmotivantes da prática da modalidade. O preconceito de gênero também apareceu como uma das dificuldades encontradas pelas atletas, que afirmaram ter ouvido comentários sobre o Rugby ser um esporte masculino, que mulheres não deveriam praticá-lo, que não seriam capazes de praticá- lo e que seus corpos são grandes e brutos. Além disso, foram pontuados também a falta de investimento e incentivo ao Rugby de mulheres no Brasil. Desta forma, concluímos que a hipótese de nosso estudo foi refutada pois o que marca a trajetória das atletas são os bons momentos expressos nos desafios conquistados, de forma individual ou coletiva, a participação em jogos ou vitórias em campeonatos e o fazer amigos. O preconceito de gênero surgiu como elemento da trajetória para algumas atletas, mas percebemos que este se deu, não de maneira individual, mas estrutural a partir da diferença salarial, do baixo investimento na categoria feminina e da falta de oportunidade dada às mulheres na modalidade. A trajetória individual dessas atletas somadas umas às outras tem transformado o coletivo da modalidade, que cresce em quantidade e qualidade, conquistando espaço, visibilidade e resultados expressivos. Ainda falta avançar na representatividade das mulheres nos cargos técnicos e de gestão nos clubes e nas instituições que organizam a modalidade. Mesmo assim, o Rugby tem se mostrado como um elemento empoderador na trajetória de vida dessas atletas

ABSTRACT: Women's participation in sport and the gender issues that permeate this field have become the subject of many discussions, especially, in contact sports. In the Rugby case, considered a sport not suitable for women, it has been reputed the antithesis of femininity. In Brazil, where it is still not well-known, Rugby has already been banned because it was believed that it masculinized women. In this way, the aim of this study was to analyze the elements that marked the sporting trajectory of female's athletes and ex-athletes of the Brazilian Rugby Team. The hypothesis was that gender prejudice was the main marker of this trajectory. For this, 10 female athletes who participate or participated in the Brazilian Rugby Sevens' National Team were interviewed. The interviews, based on a semi-structured script and carried out in the second half of 2017, were recorded, transcribed and analyzed through Bardin's Content Analysis (2011). As a result, it was found that the athletes began their participation in Rugby through the invitation of friends and family, being attracted by their values and game characteristics. Team support, challenges, goals, friends and travel were key factors for athletes to be motivated to play Rugby, listing participation in championships with the national team and summons as the highlight of their careers. They reported the financial issues, injuries, problems with the coach and to reconcile training schedules and studies as difficulties, these being the main demotivating factors of the practice of the modality. Gender prejudice also appeared as one of the difficulties encountered by athletes, who said they heard comments about Rugby being a men's sport, that women should not practice it, that they would not be able to practice it and that their bodies are large and rude. In addition, the lack of investment and incentive for women's Rugby in Brazil were also scored. In this way, we conclude that the hypothesis of our study was refuted because what marks the trajectory of the athletes are the good moments expressed in the challenges conquered, individually or collectively, participation in games or victories in championships and making friends. Gender prejudice emerged as an element of the trajectory for some athletes, but we realized that this occurred, not in an individual but structural way based on the wage difference, the low investment in the female category and the lack of opportunity given to women in the modality. The individual trajectory of these athletes added to each other has transformed the collective of the modality, which grows in quantity and quality, conquering space, visibility and expressive results. There is still a lack of progress in the representation of women in the technical and management positions in the clubs and in the institutions that organize the modality. Even so, Rugby has been shown to be an empowering element in the life trajectory of these athletes