Análise dos processos de territorialização dos atores sociais na travessa Jorge Amado, Maringá/PR

Abstract

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo compreender como ocorrem os processos de territorialização dos atores sociais na Travessa Jorge Amado na cidade de Maringá/PR. Para tal, foi tomado como objeto de estudo a Travessa Jorge Amado, investigando as territorializações (processos de apropriação e dominação, concretas e simbólicas) dos atores que a permeiam. Um dos atores sociais é o Mercadão de Maringá. Ele criou extensões laterais na Travessa Jorge Amado após autorização da Prefeitura Municipal, em troca de revitalizações na Travessa. Embora esse entorno seja um espaço público, constata-se que parte do espaço se tornou um território do Mercadão, delimitado por grades, vasos, toldos, mesas e cadeiras. Além disso, populares também territorializam parte da Travessa através de eventos e shows culturais, como por exemplo, o festival Afro-Brasileiro e a Festa Literária de Maringá. Dessa forma, diferentes atores sociais dominam e apropriam a Travessa, e por isso, este trabalho seinteressou em compreender como ocorrem os processos de territorialização destes atores sociais no local. A pesquisa é qualitativa, e envolveu coleta de dados primários e secundários, além de observação direta e não-participante. A coleta de dados primários se deu por entrevistas semiestruturadas com os atores sociais que permeiam a Travessa. São eles: os frequentadores do Mercadão, os transeuntes, os flanelinhas, os representantes do Município, do Mercadão e dos eventos populares. Já a coleta de dados secundários envolveu pesquisas em fontes bibliográficas, documentos, artigos, reportagens, redes sociais através do método hermenêutico-dialético e a argumentação foi articulada pelas chaves teóricas do afeto, poder, resistência, segregação e contradição. Os resultados obtidos apontam para uma territorialização do Mercadão e seus frequentadores que buscam manter o local privativo e requintado. Os frequentadores do Mercadão se sentem afetados pelos jardins, pela decoração, pelos bares elegantes, caros e de alta gastronomia e se apropriam daquele espaço. Quando estão no Mercadão eles se sentem à vontade, aconchegados, em um local privativo e seguro. Eles estão sempre bem arrumados e existe um status social em poder frequentar o Mercadão, por isso é comum que as pessoas postem fotos nas redes sociais quando estão lá como forma de afirmação. Além disso, o local possui grades, vasos e seguranças que demarcam e controlam as fronteiras de acesso ao Mercadão. O estilo e alto preço dos bares e restaurantes também seleciona quem pode estar ali. São demonstrações de poder por parte do Mercadão que determinam quem pode e quem não pode frequentar o local, tornando-o um lugar privativo para seus frequentadores e resistindo às novas formas de ocupação. Por outro lado, a Travessa também é territorializada por populares. Estes a territorializam por meio de eventos culturais e buscam levar para a Travessa ações afirmativas e gratuitas. Apesar de serem transitórios, são eventos que demonstram o poder das minorias em ocupar os espaços urbanos, resistindo à ocupação elitizada do Mercadão. Os eventos trazem a periferia para o centro da cidade, realizando festivais que exaltam a cultura africana e a literatura, por exemplo. Percebe-se uma segregação na Travessa, onde de um lado tem-se o território do Mercadão e seus frequentadores e do outro os transeuntes e eventos populares. Desta forma, a Travessa Jorge Amado é palco de disputas, apropriada e dominada de diferentes formas pelos diversos grupos de atores sociais que a permeiam. Este trabalho contribui para o campo dos Estudos Organizacionais, pois refina, por meio de chaves teóricas, a compreensão dos processos de territorialização dos espaços citadinos, fruto das relações sociais de poder, ampliando as possibilidades de olhares sobre a organização e gestão das/nas cidades, o que pode subsidiar e contribuir às discussões desse importante campo de estudos.

Abstract: This work aims to understand how the processes of territorialization of social actors occurs at Travessa Jorge Amado in the city of Maringá / PR. To this end, Travessa Jorge Amado was taken as an object of study, investigating the territorializations (processes of appropriation and domination, concrete and symbolic) of the actors that permeate it. One of the social actors is Mercadão de Maringá. He created lateral extensions at Travessa Jorge Amado after authorization from the City Hall, in exchange for revitalization at Travessa. Although this environment is a public space, it appears that part of the space has become Mercadão territory, bounded by railings, vases, awnings, tables and chairs. In addition, people also territorialize part of Travessa through cultural events and shows, such as the Afro-Brazilian festival and the literary festival of Maringá. In this way, different social actors dominate and appropriate Travessa, and for this reason, this work was interested in understanding how the processes of territorialization of these social actors happen in the place. The research is qualitative, and involved primary and secondary data collection, in addition to direct and non-participant observation. The collection of primary data took place through semi-structured interviews with the social actors that permeate Travessa. They are: Mercadão customers, passers-by, flanelinhas, representatives of the City Hall, Mercadão and popular events. The collection of secondary data involved searches in bibliographic sources, documents, articles, reports, social networks and websites. The data were interpreted through the hermeneutic-dialectic method and the argument was articulated by the theoretical keys of affection, power, resistance, segregation and contradiction. The results obtained point to a territorialization of Mercadão and its customers who want to keep the place private and refined. Mercadão's visitors feel affected by the gardens, the decoration, the elegant, expensive and high gastronomy bars and appropriate the space. When they are at Mercadão they feel at ease, confortable, in a private and safe place. They are always well tidy and there is a social status in being able to be at Mercadão, so it is common for people to post photos on social networks when they are there as a form of affirmation. In addition, the place has grids, vases and security guards that demarcate and control the access borders to the Mercadão. The style and high price of the bars and restaurants also selects who can be there. They are demonstrations of power on the part of Mercadão that determine who can and who cannot attend the place, making it a private place for its customers and resisting new forms of occupation. On the other hand, Travessa is also territorialized by popular people. They territorialize it through cultural events and seek to take affirmative and free actions to Travessa. Although being transitory, they are events that demonstrate the power of minorities to occupy urban spaces, resisting the elite occupation of Mercadão. The events bring the periphery to the center of the city, holding festivals that exalt African culture and literature, for example. There is a segregation in Travessa, where on the one hand there is the territory of Mercadão and its customers and on the other the passers-by and popular events. In this way, Travessa Jorge Amado is the scene of disputes, appropriated and dominated in different ways by the different groups of social actors that permeate it. This work contributes to the field of Organizational Studies, as it refines, through theoretical keys, the understanding of the processes of territorialization of city spaces, the result of social power relations, expanding the possibilities of looking at the organization and management of/in cities, which can subsidize and contribute to discussions in this important field of studies.