Texturas da violência : as trajetórias de vida de duas ex-abrigadas na Casa- Abrigo Edna Rodrigues de Souza, em Maringá-PR

Abstract

RESUMO: Trata-se da trajetória de vida de duas mulheres que vivenciaram a violência machista em uma intensidade que as obrigou a buscar abrigamento institucional na Casa-Abrigo Edna Rodri- gues de Souza, no ano de 2018. A instituição, situada em Maringá-PR, abriga mulheres em si- tuação de risco iminente de morte em virtude da violência de gênero, praticada por homens sobre mulheres. Com base nas narrativas das personagens, Marcela e Beatriz, busca-se com- preender como elas sobreviveram à violência e se reconstruíram a partir dos processos violen- tos. Para tanto, foram empreendidas longas conversas, coletivas e individuais. Os relatos cole- tados foram utilizados em formato de narrativas que dão sustentação para a problematização das múltiplas e contraditórias formas de violência experimentadas por essas mulheres. Ao analisar suas trajetórias, foi possível perceber como elas foram capazes de elaborar, no cotidi- ano, maneiras sutis de enfrentar a violência opressora, como o ato de silenciar, por exemplo. Sem estardalhaço, elas concentraram energias em encontrar alternativas para melhorar suas vidas, com vistas a se reconstruírem como mulheres autônomas, financeira e emocionalmente. Suas histórias oferecem subsídios para pensar nas táticas e práticas que elas utilizaram como novas formas de enfrentamento das desigualdades de gênero, o que torna possível considerar que outras mulheres tenham inventado novas perspectivas de subversão à ordem machista vi- gente há tanto tempo em nossa sociedade

ABSTRACT: It is the life trajectory of two women who experienced male violence in an intensity that for- ced them to seek institutional shelter at Casa-Abrigo Edna Rodrigues de Souza, in the year 2018. The institution, located in Maringá-PR, Shelters women at imminent risk of death due to gender violence, practiced by men over women. Based on the narratives of the characters, Marcela and Beatriz, we seek to understand how they survived the violence and reconstruct from the violent processes. To this end, long conversations were carried out, collective and in- dividual. The collected reports were used in the form of narratives that support the problema- tization of the multiple and contradictory forms of violence experienced by these women. When analyzing their trajectories, it was possible to see how they were competent to develop, in their daily lives, ways to face oppressive violence, such as the act of silence, for example. Without fuss, they concentrated their energies on finding alternatives to improve their lives, with a view to rebuilding themselves as autonomous women, financially and emotionally. Their stories offer subsidies for thinking about the tactics and practices they used as new ways of tackling gender inequalities, which makes it possible to consider that other women have in- vented new perspectives of subversion to the macho order that has been in force for so long in our society