Otimização do processo de extração do produto de biotransformação do delta 9- THC em urina e identificação por cromatografia em fase gasosa acoplada a espectrometria de massas (CG-EM)

Abstract

RESUMO: A utilização de substâncias psicoativas (SPA) caracterizadas como drogas de abuso, ocasionam efeitos indesejáveis como traumas e internações hospitalares, contribuindo para a sobrecarga do Sistema Único de Saúde (SUS).Canabis e o álcool têm sido associados com a ocorrência de traumas físicos atendidos em serviços de emergência. O principal constituinte ativo da planta Canabis sativa é o composto delta9-tetraidrocanabinol (delta9-THC), que no organismo é rapidamente transformado, gerando, entre outros produtos, o ácido 11-nor- 9?tetraidrocanabinol-9-carboxílico (delta9-THC-COOH), que pode ser identificado na urina por técnicas cromatográficas. O álcool está presente em quase todas as combinações de substâncias consideradas na definição de policonsumo de drogas, com evidências de associação entre abuso do álcool e dependência de outras drogas, além de aumento do poliuso de drogas. A identificação do uso de SPA em serviços de emergência não é realizada com frequência, mesmo sendo um problema de alta prevalência na população. Frequentemente, o indivíduo intoxicado não apresenta condições clínicas ou não sabe referir o uso de SPA ou quais substâncias utilizou. Dessa forma, a realização de análises toxicológicas constitui um importante recurso de auxílio diagnóstico. O objetivo do trabalho foi validar uma técnica para detecção de canabis em urina por meio da técnica de Cromatografia Gasosa acoplada com Espectrometria de Massas (CG-EM) e analisar características sócio-demográficas e toxicológicas de vítimas de trauma associado às drogas de abuso. O processo de validação para análise quantitativa do metabólito de delta9-THC na urina humana foi desenvolvido de acordo com as recomendações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA e orientações do guia internacional da United Nations Office on Drugs and Crime - UNODC. Após a extração liquido-liquido (ELL) do analito em urina, CG-EM foi utilizada para identificação e quantificação. Na faixa de 5 a 300 ng/mL, as curvas apresentaram-se lineares (r² 0,9993; y= 0,0269x - 0,0364). Os resultados indicaram eficiente extração, ensaios de precisão, exatidão e recuperação satisfatórios (3,38 a 9,04%, 83 a 112,90%, 72 a 81%, respectivamente), limites de detecção e quantificação abaixo do cut-off de 15 ng/mL, 5ng/mL e 10 ng/mL, respectivamente. O método proposto se mostrou eficaz, rápido e atendeu aos parâmetros preconizados pelas agências regulamentadoras. Para análise do uso de canabis e álcool em pacientes diagnosticados por trauma em unidade de emergência foram analisadas amostras de 299 de pacientes durante os anos de 2015 a 2017, selecionados por um processo de vigilância epidemiológica de eventos sentinela, definido como indivíduos com diagnóstico de trauma associado ou com provável associação à intoxicação por drogas de abuso, atendidos em serviço de urgência e emergência do Hospital Universitário Regional de Maringá. Foram realizadas triagem toxicológica por técnica imunocromatográfica e posterior teste confirmatório por GC-EM e determinação quantitativa de etanol por meio de química seca. O sexo masculino foi mais prevalente (91,4%), com idade média de 40 anos. A causa principal do trauma foi acidente de trânsito (46,82%), seguido de violência/agressão (26,77%). A positividade para uso de canabis entre os pacientes internados com algum tipo de trauma nos três anos variou de 12,50 a 16,48%. A determinação quantitativa de etanol apontou ingestão de bebidas alcoólicas, resultando em alcoolemia positiva variando de 9,38 a 17,85%. O estudo buscou associar dois importantes problemas de saúde no Brasil, que atingem indivíduos em idade produtiva, trazendo consequências nas relações sociais, afetivas e de trabalho: o trauma físico e uso de substâncias psicoativas. O uso abusivo de canabis constitui sim fator de risco para acidentes/trauma e violência, e no Brasil existem pouquíssimos estudos sobre essa relação. Estudos nesta linha são relevantes para identificar dados epidemiológicos e analíticos

ABSTRACT: The use of psychoactive substances (PAS) characterized as drugs of abuse, cause undesirable effects such as trauma and hospital admissions, contributing to the overload of the Unified Health System (SUS). Cannabis and alcohol have been associated with the occurrence of physical trauma seen in emergency services. The main active compound of Cannabis sativa is ?9-tetrahydrocannabinol (?9-THC), which is quickly transformed into 11-nor-?9- tetrahydrocannabinol-9-carboxylic acid (?9-THC-COOH) in the human body and can be identified in urine by chromatography techniques. Alcohol is present in almost all combinations of substances considered in the definition of polydrug use, with evidence of association between alcohol abuse and dependence on other drugs, as well as increased drug use. The identification of the use of PAS in emergency services is not performed frequently, even though it is a high prevalence problem in the population. Often, the intoxicated person does not present clinical conditions or does not know how to refer to the use of PAS or which substances used. In this way, toxicological analysis is an important diagnostic aid. The objective of this study was to validate a technique for detecting cannabis in urine using the Gas Chromatography coupled with Mass Spectrometry (GC-MS) technique and to analyze socio-demographic and toxicological characteristics of victims of trauma associated with drugs of abuse. The validation process for quantitative analysis of the delta9-THC metabolite in human urine was developed according to the recommendations of the National Agency for Sanitary Surveillance - ANVISA and guidelines of the United Nations Office on Drugs and Crime (UNODC) international guide. After liquid-liquid extraction (LLE) of the analyte in urine, GC-MS was used for identification and quantification. In the range of 5 to 300 ng / ml, the curves were linear (r ²0.9993; y = 0.0269x - 0.0364). To analyze the use of cannabis and alcohol in patients diagnosed for trauma in an emergency unit, 299 patients were sampled during the years 2015 to 2017, selected by a process of epidemiological surveillance of sentinel events, defined as individuals diagnosed with trauma associated or likely to be associated with drug intoxication, attended at the Emergency and Emergency Department of the Regional University Hospital of Maringá. Toxicological screening was performed by immunochromatographic technique and subsequent confirmatory test by GC-MS and quantitative determination of ethanol by means of dry chemistry. Males were more prevalent (91.4%), with a mean age of 40 years. The main cause of the trauma was traffic accident (46.82%), followed by violence / aggression (26.77%). The positivity for cannabis use among hospitalized patients with some type of trauma in the three years ranged from 12.50 to 16.48%. The quantitative determination of ethanol indicated alcoholic beverage intake, resulting in positive blood alcohol content ranging from 9.38 to 17.85%. The results indicated efficient extraction, accuracy, accuracy and recovery (3.38 to 9.04%, 83 to 112.90%, 72 to 81%, respectively), limits of detection and quantification below the cut-off of 15 ng / ml, 5 ng / mL and 10 ng / mL, respectively. The proposed method was effective, fast and met the parameters recommended by regulatory agencies. The study sought to associate two important health problems in Brazil that reach individuals of productive age, with consequences in social, affective and work relations: physical trauma and use of psychoactive substances. The abuse of cannabis is a risk factor for accidents / trauma and violence, and in Brazil there are very few studies about this relationship, studies like this are very important to provide such data