Elucidação da história natural do Zika vírus e sua influência na saúde reprodutiva feminina

Abstract

RESUMO: O flavivirus Zika vírus (ZIKV) foi descoberto em 1947 na floresta Zika em Uganda. Ao longo das últimas seis décadas, o vírus se espalhou lentamente para outras partes da África e, eventualmente surgiu no sudeste da Ásia, transmitido pelo Aedes aegypti e outras espécies do mosquito Aedes. Geralmente a infecção pelo ZIKV é assintomática e quando os sintomas estão presentes duram por um curto espaço de tempo, entre 2 e 7 dias. O mosquito não é mais considerado a única fonte de transmissão do vírus uma vez que recentes estudos têm relatado sua transmissão por via sexual, de homem para mulher, de mulher para homem e de homem para homem. O primeiro caso de transmissão sexual da infecção pelo ZIKV de mulher para homem foi documentado em 2016 em Nova York, onde a mesma manteve relações sexuais desprotegidas com seu parceiro. Considerando que a transmissão sexual do ZIKV foi descrita, a melhor compreensão sobre a fisiopatologia do vírus no trato reprodutivo de mulheres infectadas se faz necessária. Neste contexto, objetivamos estudar a patogênese da infecção pelo ZIKV em secreção vaginal e sua influência na saúde reprodutiva feminina. Foi relatado e acompanhamos o caso de uma mulher brasileira diagnosticada com a infecção por ZIKV e foram coletadas suas amostras biológicas até a negativação do vírus em tais espécimes. Nosso estudo forneceu novas descobertas, incluindo uma detecção prolongada do RNA do ZIKV nas secreções vaginais e endocervicais ? 31 dias após início dos sintomas (AIS). Além disso, o RNA do ZIKV não foi detectado em outros fluidos biológicos, incluindo sangue total, plasma, soro, urina e saliva no dia 31 AIS. Ainda, propomos a realização de uma revisão sistemática buscando uma melhor compreensão sobre a infecção pelo ZIKV no trato genital feminino, tanto em humanos quanto em animais. Esses achados podem contribuir para políticas de saúde pública em países com a transmissão autóctone do ZIKV. Contudo, investigações posteriores envolvendo grupos maiores de indivíduos com infecção aguda por ZIKV são necessárias para melhorar a compreensão da transmissão vertical e sexual desse vírus

ABSTRACT: Zika flavivirus (ZIKV) was discovered in 1947 in the Zika Forest of Uganda. Over the past six decades, the virus has spread slowly to other parts of Africa and eventually emerged in Southeast Asia, transmitted by Aedes aegypti and other species of the Aedes mosquito. Usually ZIKV infection is asymptomatic and when the symptoms are present they last for a short time, between 2 and 7 days. The mosquito is no longer considered the only source of vírus transmission since recent studies have reported its sexual transmission, from man to woman, from woman to man and from man to man. The first case of ZIKV sexual transmission infection from woman to man was documented in 2016 in New York, where she had unprotected sex with her partner. Considering that ZIKV sexual transmission has been described, a better understanding of the pathophysiology of the virus in the reproductive tract of infected women is needed. In this context, we aimed to study the pathogenesis of ZIKV infection in vaginal secretion and its influence on female reproductive health. We report and follow the case of a Brazilian woman diagnosed with ZIKV infection and collect her biological samples until the virus is negativated in such specimens. Our study provided new findings, including prolonged detection of ZIKV RNA in vaginal and endocervical secretions ?31 days after symptom onset (ASO). In addition, ZIKV RNA was not detected in other biological fluids, including whole blood, plasma, serum, urine and saliva at day 31 AIS. Furthermore, we propose a systematic review aiming the better understanding of ZIKV infection in the female genital tract, both in humans and in animals. These findings may contribute to public health policies in countries with endogenous ZIKV transmission. However, further investigations involving larger groups of individuals with acute ZIKV infection are needed to better understand the vertical and sexual transmission of this virus