Estratégias de diversificação em cooperativas agropecuárias : strategizing e economizing?

Abstract

Resumo: As cooperativas agropecuárias, ao longo do tempo, deixaram de apenas comprar insumos e vender a produção de seus associados e passaram a diversificar seus negócios e produtos, respondendo a contextos econômico, financeiro e político. Apesar de sua importância econômica, social e para segurança alimentar, as particularidades organizacionais das cooperativas brasileiras as diferenciam de empresas capitalistas e outras cooperativas com novos modelos de gestão. Ao adotarem a estratégia de diversificação, elas ficam sujeitas a ineficiências internas, já que os associados não possuem obrigações de entregar sua produção, nem com padrões de qualidade. Com isso, custos extras de organizar novas atividades junto aos associados para atender critérios de mercados finais, limitam a capacidade de coordenação e adaptação das cooperativas tradicionais, requerendo ajustes no seu arranjo institucional. Além disso, a nova atividade tem pouca ou nenhuma relação com as originárias de sua criação, podendo excluir associados que não se adequem a ela. Ao mesmo tempo, ao enfocar cooperativas diversificadas, torna-se relevante considerar a pluralidade de cadeias produtivas e as transações que ela pode coordenar junto ao associado e o impacto que essas mudanças podem causar. Dessa forma, este estudo foi guiado pelo seguinte objetivo: compreender como a estratégia de diversificação adotada por cooperativas agropecuárias reflete nos atributos e dimensões presentes nas transações junto ao associado e suas consequências em outras relações já existentes. Para tal, entende-se que a análise da estratégia de diversificação em cooperativas não deve apenas focar no mercado (strategizing), mas também na coordenação de suas transações de forma eficiente (economizing), mas ampliando o quadro a ser observado. Buscou-se incluir o princípio de alinhamento discriminante entre atributos de transação e estrutura de governança (WILLIAMSON, 1985), considerando, de maneira complementar, custos de mensuração e direitos de propriedade (BARZEL, 1997; 2005), mas de maneira ampliada ao ponderar a cooperativa diversificada e a pluralidade de transações entre ela e o associado. Com isso, a tese proposta foi de que: as cooperativas ao adotarem estratégias de diversificação inserem novas transações junto aos associados, resultando em mecanismos mais estritos de coordenação para capacidades adaptativas da estrutura de governança, que geram efeitos em outras atividades do associado. A coleta dos dados foi realizada em três mesorregiões do Paraná, com abordagem qualitativa, recorte transversal e perspectiva longitudinal. Essas cooperativas iniciaram em atividades como café, leite e alguns tipos de grãos e diversificaram nos SAGs de aves, peixes, suíno e laranja. Como resultados, para a diversificação vertical da cooperativa, ela incentiva o associado a diversificar a propriedade (diversificação concêntrica), que juntas são consideradas diversificação relacionada. Além disso, a cooperativa diversifica também de maneira conglomerada. Identificou-se que, as exigências de especificidades para o fornecimento de dimensões requeridas pelos mercados finais nos SAGs de proteína animal junto aos associados, demandam respostas coordenadas, que são efetivadas via contratos de parceria. Eles se mostram adequados ao incentivar e remunerar os associados pelo atendimento de dimensões sobre o ativo, ao mesmo tempo, que permite a cooperativa monitorar. No contrato no SAG da laranja não se notou o mesmo efeito. Entretanto, particularidades da relação de associação e a multiplicidade de atividades na cooperativa diversificada, exigem que a nova atividade seja observada em um contexto mais amplo, em que outras transações ocorrem. A cooperativa assumindo coordenação e controle da nova atividade, o associado torna-se dependente e comprometido a essa transação, o que reduz custos de transação e favorecendo 8 resultados estratégicos. Apesar da capacidade adaptativa para a cooperativa tradicional e da governança na nova atividade, pode haver apropriação de renda por assimetria informacional por parte da cooperativa. Com isso, múltiplos mecanismos possibilitam a capacidade adaptativa e que, como evidenciado, reverberam nas outras atividades que o associado tem com a cooperativa, já que, além de reter os associados na nova atividade, também os retém na cooperativa

Abstract: Agricultural cooperatives, throughout time, stopped buying inputs and selling the products of their members and began to diversify their businesses and products, responding to economic, financial, and political contexts. Despite their economic, social, and food security importance, the organizational particularities of brazilian cooperatives differentiate them from p capitalist companies and cooperatives with new management models. As a result, whith a diversification strategy, they are subject to internal inefficiencies, since associates have no obligation to deliver their production, nor quality standards. So, extra costs of organizing new activities with members to meet end-market criteria limit the coordination and adaptation capacity of traditional cooperatives, requiring adjustments in their institutional arrangement. In addition, the new activity has little or no relationship with the original activities of its creation and may exclude associates that do not suit it. At the same time, when focusing on diversified cooperatives, it becomes relevant to consider the plurality of productive chains and transactions that it can coordinate with the members, and the impact that these changes can cause. Thus, this study was guided by the following objective: to understand how the diversification strategy adopted by agricultural cooperatives reflects on the attributes and dimensions present in transactions with members and their consequences on other existing relationships. Hence, it is understood that the analysis of the diversification strategy in cooperatives should not only focus on the market (strategizing), but also on the coordination of their transactions in an efficient way (economizing), broadening the picture to be observed. We sought to include the principle of discriminant alignment between transaction attributes and governance structure (WILLIAMSON, 1985), considering together, measurement costs and property rights (BARZEL, 1997; 2005), in an expanded way when considering the diversified cooperative and the plurality of transactions between it and the member. The proposed thesis was that: Cooperatives, when adopting diversification strategies, insert new transactions with members, resulting in stricter coordination mechanisms for adaptive capabilities of the governance structure, which generate effects on other member activities. Data collection was carried out with three mesoregions of Paraná, with a qualitative approach featuring a cross-sectional and longitudinal perspective. These cooperatives started in activities such as coffee, milk and some types of grains and diversified into poultry, fish, pork, and orange AGSs. As results, for the vertical diversification of the cooperative, it encourages the member to diversify the property (concentric diversification), which together are considered related diversification. In addition, the cooperative also diversifies in a conglomerate manner. It has been identified that the specific requirements for supplying the dimensions required by the final markets in animal protein AGS with the associates demand coordinated responses, which are carried out through partnership contracts. They prove to be adequate in encouraging and remunerating members for meeting dimensions on the asset, and allowing the cooperative to monitor. In the AGS contract for orange, the same effect was not observed. Particularities of the membership relationship and the multiplicity of activities in the diversified cooperative require that the new activity be observed in a broader context, in which other transactions take place. When the cooperative assumes the coordination and control of the new activity, the member becomes dependent and committed to this transaction, which reduces transaction costs and favors strategic results. Despite the adaptive capacity for the traditional cooperative and the governance in the new activity, there may be income appropriation due to informational asymmetry by the cooperative. Thus, multiple mechanisms enable the adaptive capacity and, as evidenced, reverberate in the other activities that the member has with the cooperative, since, besides retaining the members in the new activity, it also retains them in the cooperative