Mulheres e cavalos : relações de poder que atravessam práticas equestres de profissionais da equoterapiarelações de poder que atravessam práticas equestres de profissionais da equoterapia

Abstract

RESUMO: As atividades equestres de esporte, lazer e trabalho constituem um terreno fértil para o estudo acerca das relações de gênero e a corporificação do papel atribuído às mulheres em sociedade. Embora sejam vários os estudos que desafiam a construção histórica, discursiva e prática que associa mulheres a seres frágeis, dóceis e domesticados (Fullagar, 2017; Fullagar et al., 2021; Thorpe et al., 2023; Pereira; Bataglion; Mazo, 2019; Lugones, 2014), ainda são escassas, no Brasil, pesquisas que buscam entender a relação de mulheres com cavalos na prática profissional, com destaque para investigações realizadas por Adelman (2016, 2020, 2021). Nesse sentido, a presente dissertação objetiva analisar como as práticas equestres de mulheres profissionais da equoterapia são construídas e atravessadas por relações de poder em uma realidade local. Especificamente, a pesquisa almeja: a) compreender como os corpos de mulheres profissionais da equoterapia são experienciados, organizados ou regulados em atividades equestres a partir das relações de poder social; b) identificar como corpos de mulheres profissionais da equoterapia são construídos e acionados em atividades equestres de trabalho, esporte e lazer; c) problematizar como se constroem os corpos humanos (de mulheres profissionais da equoterapia) na relação com corpos não humanos (cavalos) e como essa relação mobiliza reflexões acerca do ser mulher na sociedade. Por meio de estudos teóricos associados à pesquisa empírica em uma realidade local foi possível obter dados acerca dos corpos de mulheres profissionais da equoterapia em atividades equestres. Os Estudos Culturais Físicos Feministas (ECFF) orientam a abordagem metodológica que sustenta essa pesquisa, sobretudo por oferecerem elementos para examinar o ‘papel da mulher’ no contexto das práticas equestres, as 9 relações de poder que atravessam as suas práticas e os seus movimentos corporificados. Nessa direção, a pesquisa incursiona por autoras/es que discutem a construção da subjetividade feminina e as relações de poder que atravessam os corpos de mulheres e suas práticas equestres. A pesquisa empírica foi realizada em uma realidade local (região de Maringá) e inclui entrevistas semiestruturadas realizadas com nove mulheres profissionais de equoterapia. Os dados foram tratados por meio de orientações dos ECFF e possibilitaram compreender as experiências corporificadas das mulheres profissionais de equoterapia, contribuindo para acionar experiências vividas na relação com cavalos, para refletir acerca do papel social construído por/para mulheres nesse campo e para lançar desafios à continuidade da investigação. Por meio da pesquisa é possível concluir que: a) as mulheres profissionais de equoterapia são impactadas pelos modelos sociais vigentes que ditam formas de se vestir, de se comportar e que edificam a estética do ‘ser mulher’, mas resistem a essas imposições a partir do empoderamento decorrente do exercício da profissão; b) os corpos das mulheres profissionais da equoterapia são impactados pelos estereótipos de dominação masculina, embora elas resistam a normativas sociais ao demarcarem sua própria estética corporal por meio de atividades equestres nos espaços de trabalho, esporte e lazer; c) as aprendizagens incorporadas na relação cavalo-humano impulsionaram mudanças tanto na forma como elas se comportam socialmente, quanto na maneira como enfrentam as expectativas de outros/as a partir das normativas sociais. Assim, espera-se que esses achados contribuam para o avanço em questões que envolvem mulheres e cavalos, as quais podem se construir como terreno fértil de estudo e intervenção para a resolução de conflitos e disputas, bem como para superar as desigualdades de gênero nas práticas equestres

ABSTRACT: Equestrian sports, leisure and work activities constitute fertile ground for the study of gender relations and the embodiment of the role attributed to women in society. Although there are several studies that challenge the historical, discursive and practical construction that associates women with fragile, docile and domesticated beings (Fullagar, 2017; Fullagar et al., 2021; Thorpe et al., 2023; Pereira; Bataglion; Mazo, 2019; Lugones, 2014), there is still little research in Brazil that seeks to understand the relationship between women and horses in professional practice, with emphasis on investigations carried out by Adelman (2016, 2020, 2021). In this sense, this dissertation aims to analyze how the equestrian practices of professional women in equine therapy are constructed and crossed by power relations in a local reality. Specifically, the research aims to: a) understand how the bodies of women equine therapy professionals are experienced, organized or regulated in equestrian activities based on social power relations; b) identify how bodies of professional women in equine therapy are constructed and used in equestrian work, sport and leisure activities; c) discuss how human bodies (of female equine therapy professionals) are constructed in relation to non-human bodies (horses) and how this relationship mobilizes reflections on being a woman in society. Through theoretical studies associated with empirical research in a local reality, it was possible to obtain data about the bodies of female equine therapy professionals in equestrian activities. Feminist Physical Cultural Studies (ECFF) guide the methodological approach that supports this research, mainly by offering elements to examine the 'role of women' in the context of equestrian practices, the power relations that permeate their practices and their embodied movements. In this direction, the research explores authors who discuss the construction of female subjectivity and the power relations that permeate 11 women's bodies and their equestrian practices. The empirical research was carried out in a local reality (Maringá region) and includes semi-structured interviews carried out with nine female equine therapy professionals. The data was processed using of ECFF guidelines and made it possible to understand the embodied experiences of women equine therapy professionals, contributing to trigger experiences lived in relationships with horses, to reflect on the social role constructed by/for women in this field and to challenge the continuity of the investigation. Through research, it is possible to conclude that: a) female equine therapy professionals are impacted by current social models that dictate ways of dressing, behaving and that build the aesthetics of 'being a woman', but resist these impositions based on the empowerment resulting from the exercise of the profession; b) the bodies of female equine therapy professionals are impacted by stereotypes of male domination, although they resist social norms by demarcating their own body aesthetics through equestrian activities in work, sport and leisure spaces; c) the learning incorporated in the horse-human relationship has driven changes both in the way they behave socially and in the way they face the expectations of others based on social norms. Thus, it is expected that these findings will contribute to progress in issues involving women and horses, which can be constructed as fertile ground for study and intervention to resolve conflicts and disputes, as well as to overcome gender inequalities in practices. equestrians