O corpo feminino negro no balé clássico : questões raciais, relações de poder e marcadores sociais de diferença

Abstract

RESUMO: O presente estudo analisa o corpo feminino negro no balé clássico e seu atravessamento por questões raciais, relações de poder e marcadores sociais de diferença no contexto do racismo estrutural. De maneira específica, o estudo propõe-se a investigar o balé clássico e a seletividade racial a partir da inferiorização histórica do corpo negro; entender o processo de construção da imagem da bailarina negra em relação aos enquadramentos sociais (estéticos, morais, raciais); problematizar a relação entre balé clássico e corpo feminino por meio de narrativas autobiográficas de bailarinas negras; perceber como bailarinas negras são afetadas por questões raciais, relações de poder e marcadores sociais de diferença. A pesquisa foi desenvolvida por meio de incursões teóricas e abordagem empírica materializada com a participação de bailarinas negras maiores de 18 anos de idade, com mais de dois anos de experiência no balé clássico e que demonstrassem interesse em compartilhar suas vivências na modalidade a partir de autonarrativas. O tratamento dos dados deu-se por meio da análise temática de Virgínia Braun e Vitória Clarke (2006) e de ferramentas disponíveis no software Atlas TI de modo a gerenciar o material coletado, unificar as temáticas similares/recorrentes e confrontar as divergentes ou peculiares. As narrativas das participantes foram analisadas e correlacionadas com o material teórico, além de refletidas em interlocução com as experiências da própria pesquisadora em relação aos seus afetos e deslocamentos como bailarina clássica negra e atual professora nessa manifestação dançante. Com este estudo foi possível concluir, que o corpo feminino negro é interditado no interior do balé clássico ao ser experenciado pelas relações de poder, pelo racismo estrutural e pelos marcadores sociais de diferença (raça e gênero). Constata-se ainda que o corpo da bailarina clássica negra está presente na cena clássica, porém, de modo muito singelo, permanecendo invisibilizado, tanto por suas características físicas que se distanciam do ‘padrão estético ideal’ imposto pela modalidade (e sociedade), quanto por sua condição social de mulher negra (perspectiva histórico-racial). Espera-se, portanto, que essa pesquisa possa desafiar as relações de poder e o racismo estrutural instaurados na cena clássica de modo que sejam repensadas as ações que silenciam, neutralizam e desqualificam as vozes negras. Em acréscimo, espera-se que essa investigação contribua para que essas mesmas vozes sejam visibilizadas, autorizadas e reconhecidas nessa manifestação dançante e para além dela

ABSTRACT: The present study analyzes the black female body in classical ballet and its crossing through racial issues, power relations and social markers of difference in the context of structural racism. Specifically, the study proposes to investigate classical ballet and racial selectivity from the historical inferiority of the black body; understand the process of construction of the black dancer's image in relation to social frameworks (aesthetic, moral, racial); problematize the relationship between classical ballet and the female body through autobiographical narratives of black dancers; to understand how black dancers are affected by racial issues, power relations and social markers of difference. The research was developed through theoretical incursions and an empirical approach materialized with the participation of black dancers over 18 years of age, with more than two years of experience in the modality and who showed interest in narrating their experiences from self-narratives. Data treatment was carried out through thematic analysis by Virgínia Braun and Vitória Clarke (2006) and tools available in the Atlas TI software to manage the collected material, unify similar/recurrent themes and confront divergent or peculiar ones. The participants' narratives were analyzed and correlated with the theoretical material, in addition to being reflected in dialogue with the researcher's own experiences in relation to her affections and displacements as a black classical dancer and current teacher in this dance manifestation. With this study, it was possible to conclude that the black female body is prohibited within classical ballet when experienced by power relations, structural racism and social markers of difference (race and gender). It is also noted that the bodies of black classical dancers are present in the classical scene, however, in a very simple way, remaining invisible, both because of their physical characteristics that distance themselves from the 'ideal aesthetic standard' imposed by the modality (and society), and for her social condition as a black woman (historical-racial perspective). It is hoped, therefore, that this research can challenge the power relations and the structural racism established in the classical scene to generate powerful reflections, capable of contributing to the visibility of the 'black voices' in this space. It is hoped, therefore, that this research can challenge the power relations and the structural racism established in the classical scene so that the actions that silence, neutralize and disqualify black voices are rethought. May it also collaborate so that these same voices are made visible, authorized and recognized, in this dancing manifestation and beyond, as a constitutive part of humanity and, in particular, of the Brazilian people