Desocultando a orientação a partir das epistemologias do sul : uma etnoorientação emergente

Abstract

RESUMO: O esporte orientação é uma modalidade esportiva que combina interpretação racional e sensível do terreno, por meio de mapa e bússola, para passar por pontos de controle até alcançar a chegada, no menor tempo. Todavia, a resolução dos problemas de geolocalização e navegação não são exclusividade dessa modalidade. Humanos e não- humanos são biologicamente dotados de orientação, bem como, enquanto espécie, compartilhamos com todas as pessoas da mesma musculatura esquelética-estrita para o movimento. Ainda assim, em acréscimo dialético a essa capacidade inata, dependemos de aprendizagem em uma cultura para darmos significado e intencionalidade ao se-orientar. Portanto, sob as formas diversificadas de etnoorientação, a orientação é construída como habilidade, técnica corporal. Este estudo parte da inquietação no conhecimento em relação ao ocultamento do se-orientar como conhecimento oriundo da motricidade humana em grupos invisibilizados nas epistemologias hegemônicas. Diante do espasmo com essa lacuna no conhecimento, nos propusemos a revelar a existência da etnoorientação no contexto do esporte orientação Nordestino e na caça de pequi na Chapada do Araripe. Para tanto, houve combinação de diferentes técnicas de coleta, privilegiando a análise hermenêutica- fenomenológica para a compreensão do se-orientar. O primeiro bloco de resultados, caracteriza a hibridação de epistemologias (do Norte e do Sul) no modo de gestão e vivência do esporte orientação por 110 atletas presentes na Copa Nordeste de Orientação. O segundo bloco enfatiza o cotidiano de pessoas que vivem em comunidades camponesas e extrativistas tradicionais, apresentando os modos delas se relacionarem com a natureza de forma etnoorientada. Tais práticas revelam rudimentos de um hábitus ecológico impregnado de ludicidade e justiça em torno do tempo cíclico da colheita do pequi e das técnicas de orientação transmitidas tradicionalmente naquele espaço representativo. Ao cotejar esses dados, assumo o se-orientar como uma dimensão biossocial da motricidade que fertiliza diferentes práticas de etnoorientação, as quais, na epistemologia dominante, não existe no cânone circunscrito na cultura corporal pela Educação Física. E, por fim, para nos movermos a uma gestão e a uma pedagogia mais dialógica com as epistemologias do Sul, sugiro desdobramentos a partir das perspectivas da ecomotricidade e do currículo cultural da Educação Física

ABSTRACT: Orienteering is a sport that combines rational and sensitive interpretation of the terrain, through map and compass, to pass through landmarks until reaching the finish, in the shortest time. However, the resolution of geolocation and navigation problems are not exclusive to this modality. Humans and non-humans are biologically endowed with orientation, as well as, as a species, we share with all people the same skeletal-strict musculature for movement. Yet, in dialectical addition to this innate capacity, we depend on learning in a culture to give meaning and intentionality to orienting ourselves. Therefore, under the diversified forms of ethnoorienteering, orientation is constructed as a skill, a body technique. This study begins from the concern in knowledge regarding the concealment of self-orientation as knowledge arising from human motricity in groups made invisible in hegemonic epistemologies. Faced with the spasm with this gap in knowledge, we proposed to reveal the existence of ethnoorienteering in the context of Northeastern orienteering sport and in pequi hunting in Chapada do Araripe. For that, there was a combination of different collection techniques, privileging the hermeneutic- phenomenological analysis for the understanding of self-orientation. The first block of results characterizes the hybridization of epistemologies (from the North and from the South) in the way of managing and experiencing the orienteering by 110 athletes present in the Northeast Orienteering Cup. The second block emphasizes the daily life of people who live in remaining communities from quilombos, presenting their ways of relating to nature in an ethnooriented way. Such practices reveal rudiments of an ecological habitus impregnated with ludicity and justice around the cyclical season of the pequi harvest and the traditionally transmitted navigation techniques in that representative space. When comparing these data, I assume self-orientation as a biosocial dimension of motricity that fertilizes different practices of ethnoorienteering, which, in the dominant epistemology, does not exist in the canon circumscribed in body culture by Physical Education. And, finally, to move towards a more dialogical management and pedagogy with the Epistemologies of the South, I suggest developments from the perspectives of ecomotricity and the cultural curriculum of Physical Education