Por que não se importam com elas? : o esporte de mulheres na agenda governamental

Abstract

RESUMO: Nos últimos anos, tem havido uma acentuada discussão sobre a presença das mulheres nos diferentes espaços da vida social, inclusive no esporte. A pauta das mulheres no esporte tem feito parte da agenda política em diversos países. Entretanto, ao considerarmos especificamente o espaço brasileiro, podemos afirmar que o esporte de mulheres não se tornou um problema social reconhecido pelo (as) atores (izes) políticos e, por esse motivo, não entrou na agenda governamental do país. Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi analisar por quais razões o esporte para mulheres não está pautado na agenda governamental brasileira. Para isso, foram entrevistadas sei mulheres consideradas stakeholders do meio esportivo, isto é, mulheres que influenciam ou são influenciadas pelo esporte. As entrevistas foram baseadas em um roteiro semi-estruturado e realizadas no ano de 2022. Devido às dificuldades de deslocamento e agenda das entrevistadas, as entrevistas foram realizadas de forma presencial, outras por chamada de vídeo ou telefone e outras por whatsapp. As entrevistas foram transcritas e analisadas por meio da Análise de Conteúdo de Bardin (2011). Como resultado, a partir da percepção das stakeholders, verificamos que o esporte de mulheres não é considerado um problema político porque tanto o esporte como a política são considerados campos masculinizados, dificultando a presença de mulheres em ambos os espaços, e porque não só o esporte de mulheres, mas o esporte em geral, é visto como somente como uma ferramenta de marketing e retorno financeiro para as empresas, sendo negligenciado em planos de governo. Devido a este fato, são as instituições privadas, os meios corporativos, federações e confederações que têm se mobilizado na criação de políticas que busquem mudanças no cenário atual. Apesar disso, duas PL (PL 6263/2019 e PL 5297/2020) estão em processo de tramitação desde 2019, porém estão paradas devido a não apresentação de emendas no prazo estabelecido. Para que mudar a realidade, as pesquisadas sugeriram que haja representatividade dos diferentes tipos de mulheres e nas mais variadas frentes do esporte; mais visibilidade da temática das mulheres nesse campo; a criação de planos e políticas específicos para as mulheres que garantam um lugar seguro e que se consolidem como políticas de Estado. Além disso, também foi mencionado a necessidade de mais mulheres em cargos de decisão política. O trabalho concluiu que o esporte de mulheres aparece na agenda de forma secundária, já que é contemplado na agenda política legislativa, mas não na agenda do poder executivo. Além disso, não há movimentação e mobilização forte o suficiente em prol do esporte de mulheres para que este se torne uma discussão no campo da política. No que diz respeito ao Modelo dos Múltiplos Fluxos, o esporte de mulheres está presente somente no fluxo das ideias, pois há soluções e ideias de melhorias nesse campo. Por fim, percebemos que ainda há uma forte dependência do Estado para a criação de políticas que busquem melhorias na participação de meninas e mulheres no esporte, sendo necessária, então, a criação de políticas multicêntricas, incluindo agentes não-governamentais no processo de elaboração de políticas

ABSTRACT: In recent years, there has been a pronounced debate about the presence of women in different realms of social life, including sports. The discussion of women in sport has been part of the political agenda in several countries. However, in the Brazilian scope, it is possible to say that women's sport has not become a social problem recognized by political actors and, therefore, it has not entered the country's governmental agenda. Thus, this work aimed to analyze why sport for women is not on the Brazilian government agenda. For this, it was interviewed six women considered to be stakeholders in the sports, that is, women who influence or are influenced by sport. The interviews were based on a semi-structured script and carried out in the year 2022. Due to the difficulties of commuting and of the schedule of the interviewees, some interviews were carried out in person, others by video call or telephone and others by whatsapp. The interviews were transcribed and analyzed using Bardin's Content Analysis (2011). As a result, from the stakeholders' perception, it was ascertained that women's sport is not considered a political problem because both sport and politics are considered masculinized fields, making it difficult for women to be present in both spaces. Besides, not only sport of women, but sport in general is seen as just a marketing tool and a way of getting financial return for companies, being neglected in government plans. Due to this fact, private institutions, corporative means, federations and confederations have been mobilized in the creation of policies that seek changes in the current scenario. Despite this, two PL (PL 6263/2019 and PL 5297/2020) have been in the process since 2019, but have not been approved yet due to the failure to submit amendments within the established deadline. In order to change this reality, the ones surveyed suggested that there should be not only different types of women represented on the most varied fronts of sports, but also more visibility of the issue of women in this field. Furthermore, they mentioned the importance of the creation of specific plans and policies that guarantee a safe place for women and that are consolidated as State policies. In addition, the need for more women in political decision-making positions was also mentioned. It was concluded that women's sport appears on the agenda in a secondary level, since it is included on the legislative political agenda, but not in the executive branch. In addition, there is not enough movement and mobilization in favor of women's sport for it to become a discussion in the field of politics. Regarding the Multiple Streams Model, women's sport is present only in the ideas stream, as there are solutions and ideas for improvements in this field. Finally, it was pointed that there is still a strong dependence on the State for the creation of policies that seek improvements in the participation of girls and women in sport, hence, being necessary the creation of multicentric policies, including non-governmental agents in the process of elaborating policies