Sentidos de morte na escritura(ção) do luto no Facebook

Abstract

Esta dissertação busca compreender os sentidos de morte que (se) sustentam (em) escritura(çõe)s de luto no Facebook, por um trabalho de retomadas, esquecimentos e deslocamentos da memória em um (des)contínuo histórico. Alicerçada pelo entremeio da Análise de Discurso, da História e da psicanálise, a investigação defende que morte e luto sejam tomados em seus modos de materialização discursiva, sob a forma da escritura(ção) - um gesto simbólico de interpretação que, em seu funcionamento no discurso, produz efeitos cicatriciais sobre a ferida aberta pela perda. A fim de tematizar os sentidos de morte (im)possibilitados pela escritura(ção) nessa mídia digital, com base na presença/ausência de gestos de luto, um conjunto de postagens de perfis memorializados e de um grupo-obituário é levantado e recortado para a construção do corpus analítico, a partir da noção psicanalítica de perda significativa. Em vista do recorte temático, dos objetivos e do material de análise, desponta a interrogação: como os sentidos de morte se atualizam na escritura(ção) do luto no Facebook, enquanto efeitos de memória no processo histórico-ideológico de significação? Por meio de um percurso pela história das práticas mortuárias e de enlutamento no Ocidente, enfatiza-se sua dimensão discursiva, como rituais ideológicos de linguagem, até abarcar as condições de produção específicas do Facebook, para considerar em que medida elas intervêm sobre a significação da morte. O percurso de análise é tecido e costurado por uma compreensão de memória como o movimento que vivifica os sentidos e os sujeitos no discurso, de modo a sustentar o termo conceitual roda-viva da memória como um meio de praticar analiticamente tal movência. Ao longo do trajeto teórico-analítico, marca-se que a escritura(ção) do luto é uma prática discursiva que realiza pontos de corte/sutura nas fissuras abertas pelo real da perda.

This dissertation seeks to understand the meanings of death that (are) sustained (in) mourning writ(ing)s Facebook, through a play of memory's retaking, forgetting, and displacing in a historical discontinuity. Based on the interplay of Discourse Analysis, History and Psychoanalysis, the investigation argues that death and mourning could be taken in their discursive materialization forms, as writ(ing) - a symbolic interpretation gesture that, in its discursive functioning, produces scarring effects on the wound opened by loss. In order to thematize the meanings of death rendered (im)possible by writ(ing) in this digital medium, based on the presence/absence of mourning gestures, a set of posts from memorialized profiles and from an obituary group is surveyed and clipped to construct the analytical corpus, grounded on the psychoanalytical notion of significant loss. In view of the thematic outline, the objectives and the material for analysis, the guiding question is raised: how are the meanings of death recaptured in mourning writ(ing)s on Facebook, as memory-effects in the historical-ideological signification process? Through a history of mortuary and bereavement practices in the West, their discursive dimension is emphasized, as ideological language rituals, until encompassing the specific conditions of production of Facebook, to consider the extent to which they intervene in the meanings of death. The analytical pathway is woven and sewn by an understanding of memory as the movement that vivifies meanings and subjects in discourse, in order to support the conceptual term living-wheel of memory as a means of analytically practicing such mobility. Along the theoretical-analytical journey, it is observed that mourning writ(ing) is a discursive practice that performs cutting/suture points in the cracks opened by the real of loss.