Corpo, dança e educação física : experiências subversivas de gênero e sexualidade?

Abstract

RESUMO: O presente estudo almeja contribuir com o campo de pesquisa voltado às relações entre corpo, dança e educação física, com atenção aos atravessamentos de gênero e sexualidade que emergem desse cenário. O objetivo foi analisar como professores homossexuais que atuam com dança no ensino superior negociam gênero e sexualidade em suas experiências corporais na educação física. De maneira específica, procurei entender as relações entre dança, gênero e sexualidade a partir de narrativas de homens na educação física e para além dela; identificar como gênero e sexualidade são negociados durante a formação em educação física, com foco nas experiências em dança; problematizar intervenções pedagógicas em dança a partir da dinâmica reprodução/subversão de identidades de gênero/sexualidade no currículo da educação física no ensino superior; e, por fim, (re)conhecer as maneiras pelas quais gênero e sexualidade são experienciadas em relações de poder que perpassam o ensino de dança na educação física. Para tanto, a pesquisa narrativa foi eleita como meio de acesso às experiências vivenciadas na dança por nove professores homossexuais que trabalham em universidades federais brasileiras. As entrevistas foram realizadas em abril de 2020 por meio das plataformas Zoom e Google Meet. A gravação e transcrição das entrevistas ofereceram recursos para a produção/identificação de temáticas decorrentes do material coletado e posterior análise. Como resultado, relações de poder experienciadas na dança pelos participantes da pesquisa (atravessadas por gênero e sexualidade) durante a fase de formação escolar e universitária, bem como de docência universitária, foram descritas e analisadas. Os sujeitos narraram como práticas corporais (vivenciadas no período de vida escolar) contribuíram para sustentar normas e posicionar experiências em dança como transgressoras, denunciando gênero e sexualidade em seu sentido "original". Em relação ao percurso universitário, as narrativas evidenciaram como as relações de gênero e de sexualidade, evidenciadas no ensino, na extensão e na pesquisa, contribuíram para (re)descobertas de si, dado o acesso a conteúdos, projetos e investigações que possibilitaram aportes para (re)interpretações socioculturais do corpo. Como efeito do panorama apresentado, as ações na docência em dança no ensino superior, por parte dos participantes da pesquisa, operam a partir do engajamento crítico e responsável por oportunizar enfrentamentos pedagógicos que desafiam a heteronormatividade. De modo particular, as materialidades pedagógicas demarcam o (re)posicionamento do corpo como central no processo pedagógico, a produção de proliferações subversivas na dança e a tomada do público como pedagógico para (re)pensar questões que atravessam essa prática corporal. Tais formas pedagógicas oferecem, ainda, aportes para a compreensão de que corpos que desestabilizam estruturas sociais gênero e sexualidade, ao produzirem alianças por meio de experiências subversivas na dança, materializam ações que questionam a heteronormatividade na educação física. Por fim, tal constatação possibilitou identificar como a dança é atravessada por relações de poder que operam na materialização do corpo a partir de inúmeras maneiras, ora a partir da reiteração, ora a partir da subversão das normas, as quais informam como gênero e sexualidade foram negociados, afirmados e desafiados

ABSTRACT: This study seeks to contribute to the research field focused on the relationships between body, dance and physical education (PE), with attention to the intersections of gender and sexuality that emerge from this scenario. The objective was to analyze how homosexual professors who work with dance in higher education negotiate gender and sexuality in their bodily experiences in PE. Specifically, I tried to understand the relationships between dance, gender and sexuality from narratives of men in PE and beyond; identify how gender and sexuality are negotiated during university education in PE, with focus on dance experiences; problematize pedagogical interventions in dance from the dynamic reproduction/subversion of gender/sexuality identities in the PE curriculum in higher education; and, finally, recognize the ways in which gender and sexuality are experienced in power relationships that permeate dance education in PE. Therefore, I chose narrative research as a means of accessing the dance trajectories of nine male homosexual professors who work with dance at Brazilian federal universities. The interviews were conducted and recorded via Zoom and Google Meet in April 2020 and later transcribed to enable the identification of themes for analysis. The result was a description and analysis of the ways in which power relations, based on gender and sexuality, were experienced in dance during school and university education as well as in university teaching. The interviewees reported how bodily practices at school contributed to sustain norms, which positioned experiences in dance as transgressive, denouncing gender and sexuality in its "original" sense. Regarding university education, the narratives showed how gender and sexuality relationships contributed to (re)discovering themselves, given the access to knowledge, projects and investigations that allowed for contributions to sociocultural (re)interpretations of the body in teaching, extension and research. As an effect of this panorama, pedagogical actions in dance in higher education operate based on critical engagement and are responsible for providing opportunities for confrontations that challenge heteronormativity. These pedagogical forms mark the replacement of the body as central to the pedagogical process, the production of subversive proliferations in dance practices, and the reinterpretation of the public as pedagogical to rethink issues that cross this bodily practice. Such forms offer contributions to the understanding that bodies which destabilize social structures of gender and sexuality, by producing alliances through subversive experiences in dance, materialize pedagogical actions that question heteronormativity in PE. Finally, this observation made it possible to identify how dance is intersected by power relations that operate in the materialization of the body in countless ways, sometimes through reiteration, sometimes by subversion of norms, which inform how gender and sexuality are negotiated, affirmed and challenged