Sussurrando contra o esquecimento : análise da preservação da memória em O que ela sussurra (2020), de Noemi Jaffe

Abstract

A presente dissertação tem por objetivo realizar uma pesquisa bibliográfica que propõe a análise da obra O que ela sussurra (2020), com base na teoria memorialística. O romance, escrito por Noemi Jaffe, resgata a história de Nadejda Mandelstam, esposa do poeta russo Óssip Mandelstam, que, por meio de sua memória, pôde salvar mais de trezentos poemas de seu marido do apagamento stalinista. Apesar de ser uma obra de literatura brasileira contemporânea, O que ela sussurra (2020) apresenta uma narrativa cujo contexto é a Rússia stalinista. Defende-se que a narradora utilizou sua memória como uma estratégia de resistência ao governo de Stálin, assegurando que as obras de Mandelstam sobrevivessem à violência do governo. Além disso, ressalta-se como o trabalho memorialístico de Nadejda foi tão, ou mais, importante que o próprio ofício de Óssip na composição dos poemas, uma vez que foi somente devido à sua memória que suas poesias sobreviveram, o que a torna, também, autora dessas poesias do passado. Esta pesquisa encontra-se dividida em três capítulos que apresentam um percurso que parte da explicação dos conceitos memorialísticos, passa por certos aspectos da história nacional russa e apresenta, por fim, a análise do texto narrativo de Noemi Jaffe (2020). Para esse intento, foram reunidas teorias sobre memória e sobre a História russa, que auxiliaram na fundamentação dos argumentos de análise da narrativa. Assim, materiais de cunho sociológico que versam sobre memória, como as obras de Maurice Halbwachs (1990), Michael Pollak (1989; 1992), Aleida Assmann (2011), Jacques Le Goff (2013), bem como materiais sobre o período stalinista russo e sobre estratégias de silenciamento, fizeram parte do referencial teórico. Portanto, a narradora de Noemi Jaffe (2020), em O que ela sussurra, foi capaz de utilizar sua memória para fazer os poemas de seu companheiro sobreviverem.

The present dissertation aims to carry out a bibliographic research that proposes the analysis of the work O que ela sussurra (2020), based on memorialist theory. The novel, written by Noemi Jaffe, rescues the story of Nadejda Mandelstam, the wife of the Russian poet Ossip Mandelstam, who, through her memory, was able to save more than three hundred poems by her husband from the Stalinist erasure. Despite being a work of contemporary Brazilian literature, O que ela sussurra (2020) presents a narrative whose context is the Stalinist Russia. It is argued that the narrator used her memory as a strategy of resistance against Stalin's government, ensuring that Mandelstam's works survived the government's violence. In addition, it is emphasized how Nadejda's memorialistic work was so important, if not more, than Osip's own craft in the composition of the poems, since it was only due to her memory that his poetry survived, which makes her also the author of these poems of the past. This research is divided into three chapters that present a path that starts with the explanation of memorial concepts, passes through certain aspects of the Russian national History, and finally presents the analysis of the narrative text by Noemi Jaffe (2020). For this purpose, theories about memory and about the Russian History were gathered to help to support the arguments of narrative analysis. Thus, sociological materials that deal with memory, such as the works of Maurice Halbwachs (1990), Michael Pollak (1989; 1992), Aleida Assmann (2011), Jacques Le Goff (2013), as well as materials on the Russian Stalinist period and on silencing strategies were part of the theoretical framework. Therefore, the narrator of Noemi Jaffe (2020), in O que ela sussurra, was able to use her memory to make her companion's poems survive.