A reescrita do corpo negro feminino em Maréia, de Miriam Alves

Abstract

Ao narrar alternadamente a história de duas famílias, Menezes de Albuquerque e Nunes dos Santos, uma família de pessoas brancas e outra de pessoas negras, em Maréia (2019) a escritora negra brasileira Miriam Alves possibilita ao leitor o contato com Histórias da formação do Brasil que foram ocultadas. Nessas famílias, as personagens femininas, tanto as negras quanto as brancas, se destacam conforme evidenciam os atravessamentos de gênero, raça e classe fazendo uso de suas corporalidades. Diante disso, esta pesquisa objetiva analisar, especialmente, a protagonista homônima Maréia e a sua avó, Dorotéia, como também a reescrita do corpo negro feminino a partir dessas duas representatividades, considerando os processos sócio-históricos e as interseccionalidades que as perpassam no enredo. Para esse intuito, fez-se necessário o embasamento teórico em estudos históricos e raciais, na concepção de literatura negro-brasileira, em conceitos e abordagens que permeiam o corpo feminino e suas representações no universo literário e no feminismo negro e afro-latino-americano. Além desses, na ascensão de uma vertente literária negro-brasileira de autoria feminina e o exame da escrita poética de Alves como resistência discursiva, para apresentar de que maneira se realiza a reconstrução do corpo negro feminino no romance em questão, como os(as) autores(as) Nascimento (2016), Gonzalez (2020), Domingues (2007), Cuti (2010), Xavier (2019), Carneiro (2011), Collins&Bilge (2020), Silva (2011), Ashchroft (2001), hooks (2019), Kilomba (2019), dentre outros, discutem. Logo, esse percurso desvela uma nova perspectiva para o corpo, já que consolida representatividades que rompem com estereótipos e direcionam à emancipação e ao orgulho identitário do grupo étnico-racial de negros brasileiros.

By alternately narrating the story of two families, Menezes de Albuquerque and Nunes dos Santos, a family of white people and another of black people, in Maréia (2019) the black Brazilian writer Miriam Alves allows the reader to get in touch with Stories of the formation of Brazil that have been hidden. In these families, the female characters, both black and white, stand out as they show the intersections of gender, race and class by making use of their corporalities. Therefore, this research aims to analyze, especially, the homonymous protagonist Maréia and her grandmother, Dorotéia, as well as the rewriting of the black female body from these two representations, considering the socio-historical processes and the intersectionalities in the plot. For this purpose, it was necessary to have a theoretical basis in historical and racial studies, in the conception of black-Brazilian literature, in concepts and approaches around the female body and its representations in the literary universe and in black and Afro-Latin American feminism. In addition to these, in the rise of a black-Brazilian literary strand of female authorship and the examination of Alves' poetic writing as discursive resistance, to present how the reconstruction of the black female body is carried out in the novel in question, how the authors Nascimento (2016), Gonzalez (2020), Domingues (2007), Cuti (2010), Xavier (2019), Carneiro (2011), Collins&Bilge (2020), Silva (2011), Ashchroft (2001), hooks (2019), Kilomba (2019), among others, discuss. Therefore, this path reveals a new perspective for the body, since it consolidates representations that break with stereotypes and direct towards the emancipation and identity pride of the ethnic-racial group of black Brazilians.