The hate u give : racismo sistêmico e resistência no romance pós-colonial de Angie Thomas

Abstract

A presente pesquisa, partindo do romance juvenil O ódio que você semeia (2017), da escritora afro-americana Angie Thomas, apresenta aspectos do racismo sistêmico na narrativa, dando ênfase na forma como ele estrutura as relações sociais e a própria subjetividade dos/as personagens. Visando reconhecer o racismo estrutural no romance, considerações sobre esse fenômeno, fora da esfera literária, são apresentadas, partindo dos estudos sociológicos de Bonilla-Silva (2020). Na contemporaneidade, o racismo precisou se reformular para continuar como o grande determinante das relações sociais, políticas e econômicas dos sujeitos. Tendo isso em mente, a pesquisa mostra os problemas provocados pelo racismo, sendo eles: a segregação racial, a violência policial contra negros/as, o aumento de negros/as nas vias da criminalidade, dentre outras problemáticas. Atrelado a isso, a dissertação expõe teorizações sobre a resistência, apontando como o mesmo ato pode ser pensado e manifesto de formas distintas, embasando as reflexões em postulações de Fanon (2005; 2020), Ashcroft (2001) e Feldman e Silvestre (2019). A protagonista do romance, uma adolescente negra, presencia o assassinato de um jovem negro por um policial, sendo a única testemunha ocular do crime. A fim de expor a violência policial, provocada pelo racismo sistêmico, a garota precisa levantar sua voz, resistindo das mais variadas maneiras: pacífica, violenta e discursivamente. Indo além, ela passa a se dar conta de que sua realidade foi e é determinada pela estruturalidade do racismo, compreendendo seus próprios pensamentos preconceituosos no processo. Deste modo, o objetivo principal da pesquisa é evidenciar como o racismo, acompanhando o fluxo de mudanças sociais, se reformulou para continuar operante e determinante no convívio social, partindo da obra em questão. Ademais, objetiva-se determinar como a resistência pode ser usada como forma de combater o racismo sistêmico e, consequentemente, construir e recuperar identidades negras que foram tangenciadas e determinadas pelo racismo. No que tange aos objetivos específicos, busca-se incentivar a inserção de obras juvenis de autoria negra em contexto acadêmico; refletir acerca da violência física e simbólica que determinam os/as personagens. Para tanto, a metodologia utilizada é bibliográfica, centrada em pesquisas advindas dos Estudos Culturais e pós-coloniais, da sociologia e da psicanálise. Os resultados alcançados correspondem ao que foi determinado nos objetivos: paralelos entre a esfera ficcional e a real foram traçados, a fim de se entender o racismo sistêmico na obra; a subjetividade da protagonista foi transformada pelo ato de resistir discursivamente; várias formas de resistência foram observadas no decorrer da trama e validadas quando combatendo o racismo estrutural na obra.

The present research, based on the youth novel The hate you give (2017), by the african-american writer Angie Thomas, presents aspects of systemic racism in the narrative, emphasizing the way it structures social relations and the very subjectivity of the characters. Aiming to recognize structural racism in the novel, considerations about this phenomenon, outside the literary sphere, are presented, starting from the sociological studies of Bonilla-Silva (2020). In contemporary times, racism needed to be reformulated to continue as the great determinant of social, political and economic relations of subjects. Bearing this in mind, the research shows the problems caused by systemic racism, namely: racial segregation, police violence against blacks, the increase of blacks in the paths of criminality, among other problems. Linked to this, the dissertation exposes theorizations about resistance, pointing out how the same act can be thought and manifested in different ways, basing the reflections on postulations by Fanon (2005; 2020), Ashcroft (2001) and Feldman and Silvestre (2019). The protagonist of the novel, a black teenager, witnesses the murder of a young black man by a police officer, being the only eyewitness of the crime. In order to expose police violence, provoked by systemic racism, the girl needs to raise her voice, resisting in the most varied ways: peacefully, violently and discursively. Going further, she starts to realize that her reality was and is determined by the structurality of racism, understanding her own prejudiced thoughts in the process. In this way, the main objective of the research is to show how racism, following the flow of social changes, was reformulated to continue operating and determining in social life, starting from the work in question. In addition, the objective is to determine how resistance can be used as a way to combat systemic racism and, consequently, build and recover black identities that were touched and determined by racism. With regard to specific objectives, we seek to encourage the inclusion of youth works by black authorship in an academic context; reflect on the physical and symbolic violence that determine the characters. To this end, the methodology used is bibliographical, centered on research arising from Cultural and Postcolonial Studies, Sociology and Psychoanalysis. The results achieved correspond to what was determined in the objectives: parallels between the fictional and real spheres were drawn, in order to understand the systemic racism in the work; the protagonist's subjectivity was transformed by the act of discursively resisting; various forms of resistance were observed throughout the plot and validated when combating structural racism in the work.