Efeitos do treinamento intervalado de alta intensdidade (HIIT) e do treinamento contínuo de intensidade moderada (MICT) sobre marcadores inflamatórios em mulheres obesas

Abstract

RESUMO: Introdução: A obesidade é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, sendo considerada uma pandemia global e fator de risco para doenças cardiovasculares (DCVs). O excesso de adiposidade pode levar a inflamação crônica de baixo grau a qual tem sido considerado o elo entre obesidade e outras comorbidades. O exercício físico (EF) tem sido um importante componente no tratamento da obesidade, além de ser considerado um agente anti-inflamatório. O Treinamento Intervalado de Alta Intensidade (HIIT) tem sido considerado uma alternativa ao Treinamento Contínuo de Intensidade Moderada (MICT) tendo em vista sua característica "time-efficient" e a obtenção de resultados superiores ou iguais na melhora dos marcadores relacionados à saúde. Contudo, a superioridade do HIIT comparado ao MICT na melhora da inflamação crônica de baixo grau associada a obesidade ainda precisa ser melhor elucidada. Portanto, o objetivo do presente estudo foi investigar os efeitos do HIIT e do MICT sobre marcadores inflamatórios em mulheres obesas. Para tanto, foram conduzidas duas pesquisas, uma revisão sistemática com meta-análise para revisar os efeitos do HIIT e do MICT sobre marcadores inflamatórios em indivíduos com obesidade e um estudo experimental, com design paralelo, para verificar os efeitos de oito semanas de HIIT e MICT sobre marcadores inflamatórios em mulheres jovens com obesidade graus I e II. Métodos: A revisão sistemática e meta-análise foram realizadas seguindo as orientações do método PRISMA e registrada no PROSPERO nº CRD169056. A estratégia da busca dos estudos foi conduzida por dois pesquisadores e os artigos selecionados nas bases de dados eletrônicos (Pubmed/Medline, Web of Science, Cochrane, Lilacs e Scielo) de 2010 até Junho de 2021 foram organizados com auxílio de um software de gerenciamento de referência específico (Mendeley®). Os critérios de inclusão foram: estudos que apresentaram medidas basais e pós-intervenção da Interleucina (IL)-6, Fator de Necrose Tumoral Alfa (TNF-?), Adiponectina, Leptina ou Proteina c-Reativa (PCR); estudos que realizaram os treinamentos HIIT ou MICT; estudos com no mínimo duas semanas de intervenção; estudos que incluíram indivíduos com obesidade. Cada estudo também passou por uma avaliação qualitativa e a meta-análise foi conduzida no software Review Manager®. Para o estudo experimental participaram 25 mulheres jovens com obesidade graus I e II. Foram avaliadas medidas antropométricas, composição corporal, bioquímicas e aptidão cardiorrespiratória. Os marcadores inflamatórios avaliados foram PCR, IL-10 e TNF- ? por meio do método ELISA (ensaio imunoenzimático em fase sólida) com exceção da PCR que foi avaliada por meio de Imunoturbidimetria. As voluntárias foram alocadas randomicamente em dois protocolos experimentais sem intervenção dietética: HIIT (4 estímulos de 4 minutos de exercício na intensidade entre 85 e 95% da FCmáx, alternados por períodos de 3 minutos de recuperação ativa na intensidade entre 65 e 75% da FCmáx) ou MICT (41 minutos na intensidade entre 65 e 75% da FCmáx). As avaliações foram realizadas antes e após oito semanas de intervenção. Resultados: A revisão sistemática com meta-análise identificou 4.432 estudos, sendo 11 estudos incluídos na meta-análise. Não encontramos significância estatística na diferença média padronizada (SMD) entre HIIT e MICT para os marcadores inflamatórios IL-6 (p=0.28), TNF-? (p=0.15), PCR (p=0.06), Adiponectina (p=0.18), IL-10 (p=0.32) e Leptina (p=0.53). Em relação ao estudo experimental após oito semanas de intervenção, apenas o MICT reduziu significativamente as concentrações de PCR (p=0.042). Não houve diferença significativa para TNF-? e IL-10. Ambos os protocolos, HIIT e MICT, promoveram redução significante nas concentrações de Glicose Plasmática (p=0.008 e p=0.009 respectivamente), HbA1c (Hemoglobina Glicada) (p=0.008 e p=0.009 respectivamente), e Colesterol Total (CT) (p= 0.008 e 0.009, respectivamente) . Em relação à composição corporal, o HIIT reduziu significativamente a Massa Corporal e o IMC (p=0.002) e apenas o MICT reduziu significativamente a CC (p=0.011), porém, ambos os protocolos reduziram significativamente a gordura corporal. Apenas o HIIT aumentou significativamente o VO2max (p=0.024). Conclusão: Em relação aos resultados na revisão sistemática com meta-análise, não houve diferença significativa entre os protocolos HIIT e MICT nos marcadores inflamatórios de indivíduos com obesidade. Já em relação aos resultados do estudo experimental, apenas o protocolo MICT foi capaz de reduzir os níveis de concentração de PCR. Adicionalmente ambos os protocolos promoveram mudanças nas variáveis bioquímicas e composição corporal e apenas o HIIT aumentou a aptidão cardiorrespiratória

ABSTRACT: Introduction: Obesity is characterized by the excessive accumulation of body fat, being considered a global pandemic and a risk factor for cardiovascular diseases (CVDs). Excess adiposity can lead to low-grade chronic inflammation which has been considered the link between obesity and other comorbidities. Physical exercise (PE) has been an important component in the treatment of obesity in addition to being considered an anti-inflammatory agent. The high intensity interval training (HIIT) has been considered an alternative to moderate intensity continuous training (MICT) in view of its superiority in improving cardiorespiratory fitness and endothelial function. However, the superiority of HIIT compared to MICT in improving low-grade chronic inflammation associated with obesity remains to be further elucidated. Therefore, the aim of the present study was to investigate the effects of high intensity interval training (HIIT) and moderate intensity continuous training (MICT) on inflammatory markers in obese women. To this end, two studies were conducted, a systematic review with meta-analysis to review the effects of HIIT and MICT on inflammatory markers in obese patients and an experimental study, with parallel design, to verify the effects of 8 weeks of HIIT and MICT on inflammatory markers in young women with grade I and II obesity. Methods: The systematic review and meta-analysis were performed following the guidelines of PRISMA method and registered in PROSPERO nº CRD169056. The search strategy for the studies was conducted by two researchers and the articles selected in the electronic databases were organized with the aid of specific management software (Mendeley®). The inclusion criteria were: studies that presented basal and post-intervention levels of Interleukine (IL)-6, Tumor Necrosis Factor Alpha (TNF-?), adiponectin, leptin or c- Reactive Protein (CRP); studies that carried out HIIT or MICT training; studies with at least 2 weeks of intervention; studies that included people with obesity. Each study also underwent a qualitative assessment and the meta-analysis was conducted using Review Manager® software. 25 young women with grade I and II obesity participated in the experimental study. Anthropometric measures, body composition and cardiorespiratory fitness were evaluated. The inflammatory markers evaluated were CRP, IL-10, TNF-? using the ELISA method (solid phase enzyme immunoassay). The volunteers were randomized into two experimental protocols: HIIT (4 stimuli of 4 minutes of exercise at an intensity between 85 and 95% of HRmáx, alternated by periods of 3 minutes of active recovery at an intensity between 65 and 75% of HRmáx) and MICT (41 minutes at an intensity between 65 and 75% of HRmáx), evaluations were performed before and after the 8-week training period. Results: The searches retrieved 4432 studies, in which 11 were included in the meta-analysis. No significant differences were found in the standard mean difference (SMD) between HIIT and MICT for IL-6 (p=0.28), TNF- ? (p=0.15), PCR (p=0.06), adiponectin (p=0.18), IL-10 (p=0.32) and leptin (p=0.53). Regarding the experimental study, only MICT significantly reduced the PCR concentrations (p=0.042) after eight weeks of intervention. There was no significant difference for TNF- ? and IL-10. Both HIIT and MICT protocols significantly reduced the plasma glucose (p=0.008 and p=0.009), HbA1c (glycated hemoglobin) (p=0.008 and p=0.009), and total cholesterol (TC) (p=0.008 and p=0.009), respectively. In terms of body composition, HIIT significantly reduced body mass and BMI (p=0.002), wherein only MICT reduced WC (p=0.011). Nevertheless, both protocols significantly reduced body fat. Only HIIT promoted a significant increase in VO2max (p=0.024). Conclusion: As regards the results of the systematic review and meta-analysis, there was not significant differences between HIIT and MICT protocols in the inflammatory markers in individuals with obesity. Nonetheless, concerning the experimental study results, only the MICT protocol was capable of reducing PCR concentration. Additionally, both protocols promoted changes in the biochemical and body composition parameters, and only HIIT increased the cardiorespiratory fitness