Narrativas de (re)existências por entre versos e imagens : heroínas negras brasileiras em 15 cordéis, de Jarid Arraes

Abstract

Esta dissertação tem como corpus de análise a obra Heroínas negras brasileiras: em 15 cordéis (2020), de Jarid Arraes. A obra contempla narrativas sobre a vida de 15 mulheres negras e seus grandes feitos na história do Brasil. Sendo estas: Antonieta de Barros, Aqualtune, Carolina Maria de Jesus, Dandara, Esperança Garcia, Eva Maria do Bonsucesso, Laudelina de Campos Melo, Luisa Mahin, Maria Felipe, Maria Firmina dos Reis, Mariana Crioula, Na Agotimé, Tereza de Benguela, Tia Ciata e Zacimba Gaba. A escrita de Arraes (2020) faz emergir um espaço/lugar que possibilita a criação de novas subjetividades sobre essas identidades negras, recontando trajetórias de mulheres reais por meio do cordel. Diante disso, o objetivo principal da pesquisa é perscrutar a forma como os cordéis de Arraes sobre heroínas negras brasileiras acionam a construção de novas subjetividades e identidades negras, não só no âmbito da narrativa literária, mas também no ambiente extraliterário. As identidades e corporeidades de mulheres negras remetem a processos históricos e socioculturais da história do Brasil e desvelam outras narrativas de (re)existências. Tendo isso em vista, a dissertação buscou analisar a obra a partir de diálogos sobre a construção de representatividades e subjetividades negras, alicerçados em aparatos teóricos fornecidos pelos estudos culturais e raciais, tendo como base as discussões propostas por Stuart Hall (2006), Paul Gilroy (1993), Tomaz Tadeu da Silva (2000), em intersecção com o feminismo negro e com a teoria crítica literária feminista. Debatemos sobre qual é o lugar ocupado pela mulher na narrativa literária Brasileira, mais especificamente o da mulher negra, tendo como referencial Fernanda Miranda (2019), Djamila Ribeiro (2018), Lúcia Osana Zolin (2009), Regina Dalcastagnè (2017), além dos estudos de Francisca Santos (2009) e Bruna Lucena (2016), nos quais obtemos subsídio para entender de que forma a mulher aparece no lugar de autoria e voz no cordel Brasileiro. Assim, a pesquisa é caracterizada como bibliográfica e analítica, visto que procuramos relacionar as transformações da literatura de cordel feita por mulheres, mais especificamente mulheres negras na contemporaneidade com os feminismos contemporâneos. A partir dessa perspectiva, pensamos a mulher negra fora do local onde comumente é narrada, ou seja, como agente construtor e central de sua biografia, e o mesmo com relação à autoria, discutindo sobre a ocupação desses espaços por mulheres. Neste contexto, o cordel emerge como um dispositivo de desestabilização de significantes de opressão, representando uma forma de resistência tanto na esfera autoral quanto na narrativa. Observamos, ainda, um fenômeno significativo: mulheres assumindo papéis centrais na produção e narração de outras mulheres dentro deste gênero literário, conforme foi evidenciado na análise da obra Heroínas Negras Brasileiras: em 15 Cordéis (2020). Nesse sentido, a pesquisa situa a literatura de cordel como um artefato cultural profundamente imbricado nas teias de nossas relações sociais, históricas e de vivência. Ademais, esse tipo literário revela-se dinâmico, reconfigurando-se e estabelecendo novas articulações com as formas de narração e representação, influenciada pela forma como nós, enquanto sujeitos, interpretamos e interagimos com as experiências e percepções que nos circundam. Esta abordagem proporciona uma compreensão mais aguçada da ressonância e contemporaneidade da literatura de cordel com a literatura de autoria feminina negra na esfera cultural e social no Brasil.

The corpus of this thesis was Jarid Arraes' Heroínas negras brasileiras: em 15 cordéis (2020). This book includes narratives about the lives of 15 black women and their great achievements in Brazilian history. Among these women: Antonieta de Barros, Aquatune, Carolina Maria de Jesus, Dandara, Esperança Garcia, Eva Maria do Bonsucesso, Laudelina de Campos Melo, Luisa Mahin, Maria Felipe, Maria Firmina dos Reis, Mariana Crioula, Na Agotimé, Tereza de Benguela, Tia Ciata and Zacimba Gaba. Arraes' writing creates a space/place that makes it possible to create new subjectivities about these black identities, retelling the stories of real women through the form of cordel. Therefore, the aim of this research was to examine how Brazilian cordel about black heroines enables the construction of new subjectivities and identities in the literary narrative and in the extra-literary environment, about black women's identities and corporealities, in which this book triggers historical and socio-cultural processes in Brazilian history and unveils other narratives of re-existence. Considering this, this thesis analyzed the book through connections with the construction of black representativities and subjectivities, based on theoretical frameworks provided by cultural and racial studies, based on the discussions presented by Stuart Hall (2006), Paul Gilroy (1993), Tomaz Tadeu da Silva (2000) in association with black feminism and feminist critical literary theory. Thus, we discussed the place occupied by women in Brazilian literary narratives, more specifically black women, based on Fernanda Miranda (2019), Djamila Ribeiro (2018), Lúcia Osana Zolin (2009), Regina Dalcastagnè (2017), as well as the studies of Francisca Santos (2009) and Bruna Lucena (2016), from whom we sought support to understand how women participate in authorship and have a voice in Brazilian cordel. Thus, the research is classified as bibliographical and analytical, in the sense that we aimed to relate the transformations of cordel literature by women, more specifically black women in contemporary society, to contemporary feminisms. From this perspective, we think of the black woman beyond the place where she is usually narrated, but as a constructive and central agent of her biography, and the same goes for authorship, discussing the occupation of these spaces by women. In this context, the cordel emerges as a means of disrupting meanings of oppression, representing a form of resistance in both the authorial and narrative domains. There is also a significant phenomenon: women taking on central roles in the production and narration of other women within this literary genre, as evidenced in the analysis of the book Heroínas Negras Brasileiras: em 15 Cordéis (2020). In this regard, this research situates cordel literature as a cultural artifact that is deeply embedded in the webs of our social, historical and experiential relationships. Furthermore, this literature is dynamic, reconfiguring itself and establishing new articulations with different forms of narration and representation, influenced by the way in which we, as subjects, interpret and interact with the experiences and perceptions that surround us. This approach provides a sharper understanding of the resonance and contemporaneity of cordel literature with black women's literature in the cultural and social context in Brazil.