Cotas : para quê te quero? : indagações e inquietações sobre literatura, acesso e permanência no ensino superior a partir da implantação de cotas raciais para ingresso na UEM

Abstract

Resumo: Ao verificar a implementação de cotas raciais para negros nos vestibulares da UEM, a urgência da efetivação da educação antirracista e da desconstrução do mito da democracia racial e a necessidade de material específico voltado para a literatura negra durante a formação de professores de Letras, esta pesquisa investiga e propõe a representatividade negra e de seus conhecimentos no meio acadêmico, especificamente da literatura negra. Destarte, minhas perguntas iniciais de pesquisa são: Qual o cenário regional para a aprovação de cotas raciais na UEM? Em relação à prova de literatura, como se dá quantitativamente a representatividade da literatura negra nas listas de indicações e nas provas de literatura dos vestibulares da UEM neste período de efervescência da discussão da presença negra nos diversos espaços acadêmicos e sociais, especialmente nas provas referentes a 2019 e 2020, quando se dá a aprovação das cotas? Depois do ingresso na universidade, como pode ser a expansão dos saberes produzidos pelo movimento negro educador por meio da literatura no campo acadêmico? Com a aprovação de cotas raciais para negros no vestibular da UEM, resultado de articulações do movimento negro maringaense, como ficam as demandas acima no que diz respeito ao currículo? Para responder tais questionamentos, os objetivos de pesquisa foram: traçar um panorama histórico acerca do contexto de aprovação das cotas raciais para negros na UEM; analisar as listas de indicação de obra literárias para os vestibulares paranaenses do segundo semestre de 2019 e de 2020; analisar as provas de literatura dos vestibulares da UEM referentes ao segundo semestre de 2019 e 2020 no que diz respeito às questões étnico-raciais e literatura negra; a partir das reflexões sobre literatura negra, saberes políticos, estéticos-corpóreos e identitários, cotas raciais e dispositivo de racialidade, e dos dados analisados, com foco na representatividade da literatura negra, sugerir um roteiro para curso de extensão universitária com vistas à ecologia literária e ênfase na literatura negra. Esta pesquisa é autoetnográfica (Ellis e Bochner, 2020) e foi dividida em a) levantamento bibliográfico sobre literatura negra, pensamento decolonial e cotas raciais; b) entrevistas com a coordenação do Núcleo de Estudos Interdisciplinares Afro-Brasileiros da UEM envolvidos na implantação das cotas raciais para ingresso em cursos de graduação da UEM; c) análise das provas de literatura dos vestibulares das UEM do segundo semestre de 2019 e 2020 e das listas de indicação literária para os respectivos vestibulares; d) elaboração de projeto de extensão voltado para o estudo da literatura negra. A tese defendida de que, embora o sistema universitário tenha apresentado mudanças recentes no sistema de ingresso para os cursos de graduação e haja a entrada de literatura negra no vestibular, ainda seja preciso propor ações de fortalecimento da presença dos saberes produzidos pelo movimento negro nas pesquisas acadêmicas foi confirmada.

Abstract: By verifying the implementation of racial quotas for Black people in the UEM entrance exams, the urgency of effectuating anti-racist education and the deconstructing the racial democracy myth and the need of Black literature specific material during Language and Literature, this research investigates and suggests Black literature and Black people representativeness in the university. Thus, my initial research questions are: What are the regional scene to the approval of racial quotas at UEM? Concerning the literature tests, how is Black literature numerically represented in the indication lists and the tests itself in the 2019 and 2020 UEM entrance exams in a moment in with arousal of discussions about Black people requiring the right of being present at universities and social spaces? After entering the university, how can be the expansion of literary knowledge produced by the educator Black movement at that space? With the approval of racial quotas, result of negotiations from the Black movement of Maringá, how the exposed needs are taken into account in the curriculum? In order to answer those questions, the aims of this research were: establishment of historical panorama about the Black people quotas approval at UEM; analysis of literatures lists for the 2019 and 2020 entrance exams of state universities in Paraná; analysis of entrance exams tests applied during 2019 and 2020 concerning ethnic-racial questions and Black literature; based on discussions on Black literature, politics, body and aesthetic and identity knowledge, racial quotas and racial device and based on the collected data, the proposal of a guide for university extension course focused on literary ecology and Black literature. This research is autoethnographic (Elis and Bochner, 2020) and is divided in a) bibliographic investigation about Black literature, decolonial thought and racial quota; b) interviews with the coordination of the UEM's Afro-Brazilian Interdisciplinary Studies Centre involved with the approval of racial quota for UEM's entrance exams; c) analysis of 2019 and 2020 UEM's entrance exams' literature tests and its literary indication lists; elaboration of extension project addressed to Black literature study. The supported thesis that, although the university system has shown recent changes in the way of entering the university and there is the entrance on Black literature in the entrance exams, it was verified that it is still needed the proposal of actions to enforce the presence of the knowledge produce by the Black movement.