O olhar de Pecola, protagonista de Toni Morrison : quando os outros se tornam quem observa

Abstract

Resumo: A presente pesquisa estuda O olho mais azul, primeiro romance da escritora norte-americana Toni Morrison, escrito na década de 1960 e publicado no ano de 1970. Em seu livro, que se tornou um best-seller, Morrison se utiliza de pequenos desdobramentos do cotidiano de uma criança negra de pele retinta, moradora de uma pequena comunidade, em meio a lutas pelos direitos civis. Esta menina negra vive seu eterno dilema de pertencimento, por estar dentro de uma cultura diaspórica e por tentar, a todo tempo, encaixar-se ao modelo hegemônico, mesmo sem entender direito sua busca. É interesse dessa pesquisa compreender de que maneira a identidade da protagonista, a menina Pecola, de onze anos, é afetada por narrativas criadas para reproduzir ideais racistas, responsáveis pela disseminação da imagem positiva do branco e da imagem negativa do negro. Visa-se compreender o processo pelo qual essa personagem rejeita comportamentos atribuídos aos negros para alcançar a aceitação social do branco. É importante, também, compreender de que forma a perspectiva da escritora negra se debruça sobre os tópicos citados. Para tanto, escolheram-se como leituras Alice Walker (1983), bell hooks (1995), Patricia Hill Collins (2016; 2019; 2021; 2022); Lélia Gonzalez (1988; 2008; 2020); Hudson-Weems (1998; 2020), entre outros(as). Quanto à estrutura do trabalho, ele se divide em Introdução, pensando-se em questões particulares de identidade e em coletividades a partir do Mulherismo Africana. O primeiro capítulo é dedicado à biografia e à ação política e engajada de Toni Morrison em seus textos, bem como são informadas as bibliografias produzidas pela autora, sobretudo as relacionadas aos romances, e os diversos prêmios literários que ganhou. Ainda no primeiro capítulo foram traçados paralelos entre os Estudos Culturais, o Decolonialismo e a literatura de Toni Morrison. Já o segundo capítulo se propõe a estudar as personagens, as vozes narrativas e o enredo a partir de noções de escrevivência (Evaristo, 2005, 2006, 2023), do Mulherismo Africana e do duplo sororidade/dororidade (Piedade, 2017). O terceiro capítulo trabalha com a protagonista Pecola e seu universo fragmentado, propondo traçar a construção identitária dela mesma, de sua família e da comunidade que a cerca por vias de estereótipos; bem como foca em tópicos como o colorismo e o racismo sofridos pela protagonista. O quarto capítulo aponta as violências, sobretudo as simbólicas, e também a questão dos abusos e do abandono parental. Aqui é ressaltado como a sociedade se torna responsável por propagar as violências contra a personagem. Em vias gerais, procura-se entender como Pecola se perde em uma visão adulterada sobre si mesma, de maneira pejorativa, e como o olhar do outro a leva aos extremos.

Abstract: This research studies The Bluest Eye, the first novel by North American author Toni Morrison, written in the 1960s but published in 1970. In her book, which became a bestseller, Morrison uses small results from the daily life of a black child whose skin is deep purple and who lives in a small community, in the midst of civil rights struggles. This black girl lives her eternal dilemma of belonging, of being part of a diasporic culture and always trying to fit into the hegemonic model, even though she does not fully understand her quest. This research aims to understand how the identity of the protagonist, eleven-year-old Pecola, is affected by narratives created to reproduce racist ideals, responsible for disseminating the positive image of whites and the negative image of Afro-Americans. The goal is to understand the process by which this character rejects behaviors attributed to blacks in order to achieve social acceptance by whites. It is also important to understand the author's perspective and how the Afro-American writer deals with the topics mentioned. For this purpose, we have chosen Alice Walker (1983), bell hooks (1995), Patricia Hill Collins (2016; 2019; 2021; 2022); Lélia Gonzalez (1988; 2008; 2020); Hudson-Weems (1998; 2020), among others. As for the structure of the work, it is divided into an Introduction that reflects on private issues related to identity and collectivities based on Womanism. The first chapter is dedicated to Toni Morrison's biography and to the political and committed action in her texts, as well as to the bibliographies produced by the author, mainly those related to her novels, and to the various literary prizes she has won. The first chapter also draws parallels between Cultural Studies, Decolonialism, and Morrison's literature. In relation to the second chapter, it offers a study of the characters, narrative voices and plot, explaining the notions of self-writing (Evaristo, 2005, 2006, 2023), Womanism, and the double sorority/dororidade (Piedade, 2017). The third chapter works with protagonista Pecola and her fragmented universe, proposing to trace the identity construction of herself, her family, and the community around her through stereotypes, as well focusing on issues such as colorism and racism suffered by the protagonist. The fourth chapter deals with violence, especially symbolic violence, as well as the problems of abuse and parental abandonment. It highlights how society is responsible for the proliferation of violence against the character. In general, it tries to understand how Pecola loses herself in an adulterated view of herself, in a deragatory way, and how the gaze of the other takes her to extremes.