Representações sobre a profissão docente presentes no faz de conta de crianças de contexto rural

Abstract

RESUMO: A partir de projetos de iniciação científica anteriores, que constataram forte expressão de representações sociais de crianças do meio rural em seu jogo simbólico, pesquisas anteriores sobre representações de profissões, assim como a existência de lacunas encontradas em revisão da produção acadêmica dos últimos dez anos, realizamos uma investigação em busca de responder a seguinte questão: Que representações sociais de docência são manifestadas no faz de conta de crianças da Educação Infantil inseridas em um contexto rural? Objetivamos, então, investigar como crianças com idade de cinco anos de contexto rural representam a profissão docente por meio do faz de conta. Desenvolvemos uma pesquisa qualitativa que envolveu seis crianças de uma escola rural de um município do noroeste do Paraná. Com as crianças realizamos entrevistas individuais semiestruturadas e jogo de areia, considerado uma novidade de nossa pesquisa, cujos resultados foram satisfatórios para a objetivação de representações sociais. Os dados produzidos com estas técnicas de pesquisa foram analisadas por meio do método de Análise de Conteúdo. Dessa análise emergiram dois temas de representações sociais das crianças sobre a docência: Dentro da escola e Fora da escola, que foram subdivididos em categorias. Os resultados revelaram que para ser docente é necessário, na visão das crianças, ser mulher, branca, jovem, com cabelos longos e lisos. Suas escolhas sinalizam efeitos da interação quase exclusiva das crianças com gênero feminino resultante do processo de feminização do magistério. Concluímos, portanto, que a reprodução de padrões de beleza e comportamentos hegemônicos sociais na instituição escolar se soma a baixa experiência das crianças com o diferente, como os indivíduos considerados pelas crianças-participantes como inadequados para serem docentes: homens, mulheres com cabelos coloridos, com tatuagens e com deficiências físicas. Além desses aspectos, as representações da docência também revelaram ancoragens nas atividades da rotina escolar em que a professora é considerada responsável pelo disciplinamento de seus corpos. Como implicações para a educação, essas constatações nos levam a assinalar a importância das futuras docentes se interrogarem sobre o sentido dessas condutas e rotinas escolares. As representações de docência expressas pelas crianças-participantes sugerem a manutenção de modelos de escola que talvez não sejam os necessários historicamente para este momento em que vivemos condições de uma sociedade líquido-moderna

ABSTRACT: From previous scientific initiation projects, who verified a strong expression of social representations of rural children in their symbolic play, research on professional representations, as well as the existence of gaps found in a revision of the academic production of the last ten years, we conducted an investigation in order to answer the following question: what social representations of teaching are manifested in the account of children of children's education inserted in a rural context? We aim, then, to investigate how children of five years of rural context represent the teaching profession through make-believe. We developed a qualitative research that involved six children from a rural school in a municipality in the northwest of Paraná. With the children we conducted semi-structured individual interviews and sand play, considered a novelty of our research, the results of which were satisfactory for the objectification of social representations. The data produced with these research techniques were analyzed using the Content Analysis method. From this analysis emerged two themes of children's social representations about teaching: inside the school and out of school, which were subdivided into categories. The results revealed that in order to be a teacher, in the view of children, being white, young woman with long straight hair. Their choices signal the effects of the almost exclusive interaction of the children with feminine gender resulting from the process of feminization of the teaching profession. We conclude that the reproduction of patterns of beauty and social hegemonic behaviors in the school institution is compounded by the low experience of children with the different ones, such as the individuals considered by the children-participants to be unsuitable for teaching: men, women with colored hair, tattoos and with physical disabilities. Besides these aspects, teaching representations also revealed anchorages in the activities of the school routine in which the teacher is considered responsible for the disciplining of their bodies. As implications for education, these findings lead us to point out the importance of future teachers if they question the meaning of these behaviors and school routines. The teaching representations expressed by the participant children suggest the maintenance of school models that may not be historically necessary for this time when we are living in conditions of a modern-day society