Redescobrindo a aprendizagem empreendedora na universidade a partir da interrelação entre Sistemas de Atividade : um estudo no Brasil e no Canadá

Abstract

RESUMO: A expansão da educação para o empreendedorismo nas universidades ocorreu por meio de um conjunto de atividades curriculares e extracurriculares seguido pela criação de mecanismos para a prática do empreendedorismo, como incubadoras e aceleradoras de empresas. Como resultado, mais estudantes podem se envolver no empreendedorismo para a criação de empreendimentos reais. Contudo, iniciar uma startup pode ser um desafio para muitos estudantes quando a rotina de estudos toma parte considerável da vida escolar. A literatura tem discutido a falta de integração, entre as atividades que ocorrem no empreendedorismo e as atividades escolares, que pode ser explicada, em certa medida, pelo uso de abordagens que homogeneízam e individualizam o empreendedorismo e os processos de aprendizagem. No empreendedorismo estudantil, duas atividades são consideradas centrais quando os estudantes decidem se engajar na criação de empreendimentos reais: a aprendizagem empreendedora e a aprendizagem escolar. Essas duas formas de aprendizagem são compreendidas a partir de estruturas sistêmicas constituídas por um conjunto de componentes que interagem no espaço de aprendizagem. Partindo dessas ideias, este estudo busca compreender a inter-relação entre os sistemas de atividade da aprendizagem empreendedora e da aprendizagem escolar no contexto do empreendedorismo estudantil. Para isso, o estudo utiliza a Teoria da Atividade Histórico-Cultural como aporte teórico e metodológico de investigação e uma das tradições dos estudos baseados na prática. A coleta de dados foi realizada em duas instituições de ensino superior, sendo uma no Brasil e outra no Canadá. Os dados foram coletados por meio de entrevistas com estudantes empreendedores (fundadores de startups), professores e gestores de incubadoras e dos programas de empreendedorismo. No Brasil, também foram realizadas entrevistas com profissionais de acompanhamento psicopedagógico e assistência estudantil. Adicionalmente, foram utilizadas como técnicas de pesquisa a observação participante, o registro de campo e a pesquisa documental. Os resultados apresentam a aprendizagem empreendedora como uma atividade que ocorre dentro e fora da sala de aula e que conecta "o estudante e o empreendedor" em toda a sua jornada de aprendizagem. A identificação e a análise das tensões que os participantes enfrentam em suas atividades possibilitaram a proposição de uma abordagem holística, integradora e colaborativa da aprendizagem na universidade. Observou-se que, muitas vezes, os estudantes empreendedores são percebidos em ações isoladas em vez de sujeitos pertencentes a uma rede completa de atividades. Consequentemente, os componentes das atividades entram em conflito e produzem tensões para os participantes da aprendizagem. Ao revelar as situações menos produtivas que os estudantes enfrentam durante a aprendizagem, foi possível sugerir alternativas sobre como apoiá-los na universidade, como, por exemplo, a elaboração de programas colaborativos e a condução de ações negociadas. Além de um novo conceito para a aprendizagem empreendedora baseado na Teoria da Atividade, o estudo demonstrou como essa abordagem teórica fornece um conjunto de ferramentas metodológicas que ajudam a explicar como as atividades de aprendizagem acontecem e como os pesquisadores e os membros da comunidade escolar podem ter suas ações nutridas por ideias fundamentais dessa abordagem.

ABSTRACT: The expansion of entrepreneurship education in universities has occurred through a set of curricular and extracurricular activities followed by the creation of mechanisms for the practice of entrepreneurship, such as business incubators and accelerators. As a result, more students can engage in entrepreneurship to create real businesses. However, starting a startup can be challenging for many students when the study routine takes up a considerable part of their school life. The literature has discussed the need for more integration between the activities that occur in entrepreneurship and school activities, which can be explained, to a certain extent, by using approaches that homogenize and individualize entrepreneurship and learning processes. Two activities in student entrepreneurship are considered central when students create real businesses: entrepreneurial learning and school learning. These two forms of learning are understood from systemic structures constituted by a set of components that interact in the learning space. Based on these ideas, this study seeks to understand the interrelationship between the activity systems of entrepreneurial learning and school learning in the context of student entrepreneurship. To this end, the study uses the historical-cultural activity theory as a theoretical and methodological framework for research as one of the traditions of practice-based studies. Data was collected in two higher education institutions, one in Brazil and the other in Canada. These institutions had curricular and extracurricular practices to support the creation of startups by students, including incubators and entrepreneurship and innovation programs. Data were collected through interviews with student entrepreneurs (startup founders), teachers, and managers of incubators and entrepreneurship programs. In Brazil, interviews were also conducted with professionals in psycho-pedagogical monitoring and student assistance. Additionally, participant observation, field notes, and documentary research were used. The set of empirical material was organized with the help of Atlas.Ti software and analyzed inductively following an open and axial coding process. The results show that entrepreneurial learning is an activity that occurs both inside and outside the classroom and that connects "the student and the entrepreneur" throughout their learning journey. Identifying and analyzing the tensions that participants face in their activities made it possible to propose a holistic, integrative, and collaborative learning approach at the university. It was observed that entrepreneurial students are often seen in isolated actions rather than as subjects belonging to a full network of activities. Consequently, the components of the activities conflict and produce tension for the learning participants. By revealing the less productive situations that students face during learning, it was possible to suggest alternatives to support them at university, such as, for example, the design of collaborative programs and engagement in negotiated actions. In addition to a new concept for entrepreneurial learning based on Activity Theory, the study demonstrated how this theoretical approach provides a set of methodological tools that help to explain how learning activities take place and how researchers and members of the school community can have their actions nourished by fundamental ideas of this approach.