Bicho papão ou amigo simbólico? : Contribuições da Teoria Histórico Cultural para a organização do ensino inicial de matemática

Abstract

RESUMO: A Psicologia Histórico Cultural parte da premissa marxiana de que a atividade fundamental do ser humano é o trabalho, pois este é a condição para o surgimento da consciência. Portanto, o desenvolvimento do psiquismo humano está intrinsecamente relacionado com a realidade concreta e com o contexto histórico e cultural em que encontra-se inserido e devido a isso, entende-se que o desenvolvimento humano não ocorre de forma espontânea, mas sim que ele é guiado pela atividade humana. Para compreendermos melhor como ocorre este processo, realizaremos um breve estudo sobre a periodização do desenvolvimento proposto pelos autores da Psicologia Histórico-Cultural. Ao entendermos que a cada período há uma atividade responsável por guiar o desenvolvimento, podemos perceber a importância que cada uma dessas atividade desempenham na vida da criança. Trazemos como foco em nossa pesquisa a idade de transição entre a infância e a idade escolar, período que compreende a Crise dos Sete Anos, momento em que ocorre a transição entre a atividade de brincar para a atividade de estudo. Neste momento também ocorrem mudanças significativas na Situação Social de Desenvolvimento da criança, ou seja, no meio em que está inserida, e trazemos como destaque a transição entre o ensino infantil para o ensino regular. Ao ingressar nos primeiros anos do Ensino Fundamental a criança se depara com uma mudança brusca no modo de ensino, e se este não for devidamente organizado, não será capaz de fazer com que a criança apreenda os conceitos científicos, superando os conceitos cotidianos. Trazemos como foco o ensino de Matemática, pois, por ser uma disciplina de caráter acumulativo, a base para a compreensão de conteúdos mais complexos está justamente nos primeiros anos do Ensino Fundamental. O ensino de Matemática enfrenta múltiplas adversidades que precisam ser entendidas para que possam ser superadas, dentre elas, a crença formada socialmente de que Matemática é muito difícil e que por isso é normal não aprender a disciplina. Cria-se um ciclo vicioso de não aprender e não gostar de Matemática como uma condição natural. Por meio da compreensão da origem desse pré-conceito sobre o ensino de Matemática e quais as consequências ele gera no processo educativo é possível pensar formas de superá-lo. Diante de tais circunstancias nosso objetivo é analisar a organização do ensino de Matemáticana transição para as séries iniciais do Ensino Fundamental, afim de compreender e contribuir para a organização de um ensino de Matemática que de fato promova o desenvolvimento psíquico. Concluímos, portanto, que diante de todas as circunstâncias que envolvem a criança e o ensino de Matemática neste período específico, a brincadeira pode ser uma ferramenta que contribua com a organização do ensino de Matemática, gerando motivos para engendrar a atividade de estudo. Por meio da brincadeira, o professor tem condições de organizar o ensino de Matemática para despertar a necessidade de a criança trabalhar com números e operações Matemáticas, de modo que aprender tais conceitos tenha sentido para a criança.

ABSTRACT: Cultural-Historical Psychology is based on the Marxian premise that the fundamental ctivity of human beings is work, as it is the condition for the emergence of consciousness. Therefore, the development of human psyche is intrinsically related to concrete reality and the historical and cultural context in which it is embedded. Consequently, human development does not occur spontaneously but is rather guided by human activity. To better understand how this process takes place, we will conduct a brief study on the periodization of development proposed by the authors of Cultural-Historical Psychology. By understanding that each period has a specific activity responsible for guiding development, we can recognize the importance of these activities in a child's life. Our research focuses on the transition period between childhood and school age, which includes the "Seven-Year Crisis," a phase in which the transition from play activity to study activity occurs. During this time, significant changes also take place in the child's Social Situation of Development, that is, in the environment in which they are inserted. We particularly highlight the transition from early childhood education to formal schooling. Upon entering the early years of elementary education, children face a sudden shift in the teaching approach. If this transition is not properly structured, it will not enable children to grasp scientific concepts, thus overcoming everyday concepts. Our focus is on Mathematics education, as it is a cumulative subject, meaning that the foundation for understanding more complex content is built in the early years of elementary school.Mathematics education faces multiple challenges that must be understood in order to be overcome. Among these challenges is the socially ingrained belief that Mathematics is too difficult and, therefore, it is normal not to learn the subject. This belief creates a vicious cycle in which students do not learn and, consequently, do not enjoy Mathematics, as if it were a natural condition.By understanding the origins of this preconception about Mathematics education and the consequences it has on the learning process, it is possible to devise ways to overcome it. Given these circumstances, our objective is to analyze the organization of Mathematics teaching during the transition to the early Years of elementary education, aiming to understand and contribute to the structuring of a Mathematics curriculum that genuinely fosters cognitive development. We conclude, therefore, that considering all the circumstances surrounding children and Mathematics education during this specific period, play can be a valuable tool in structuring Mathematics teaching. Play can generate motivation that fosters engagement in study activities. Through play, teachers can organize Mathematics instruction in a way that stimulates children's need to work with numbers and mathematical operations, making the learning of these concepts meaningful for them.