O setting psicanalítico : mudanças e implicações a partir da pandemia do coronavírus

Abstract

RESUMO: A presente investigação teve como objetivo compreender quais foram as implicações, continuidades e descontinuidades no setting psicanalítico, tanto em seus aspectos objetivos quanto subjetivos, a partir da pandemia do Coronavírus. O setting psicanalítico se modificou com a pandemia, em função da exigência de distanciamento entre as pessoas para evitar a contaminação e talvez até a morte, com medidas restritivas como o estabelecimento de toque de recolher, lockdown, entre outras. Desse modo, a nova realidade impôs à clínica psicanalítica a necessidade de que, para continuar atendendo as pessoas, era preciso migrar os atendimentos presenciais para o remoto, embora a maioria dos/as psicanalistas não estivesse preparado/a para isso. Do ponto de vista metodológico, adotamos o método psicanalítico e, com essa perspectiva, realizamos entrevistas semiestruturadas com seis psicanalistas que durante a pandemia vivenciaram em suas práticas as questões relacionadas aos atendimentos nesse período. A partir da análise de cada uma das entrevistas, elaboramos ensaios metapsicológicos, como recurso para expressar como os dados foram sendo construídos. Com os ensaios pudemos associar teoria e técnica, para entender como as mudanças que ocorreram no setting externo e no setting interno foram assimiladas pelos psicanalistas. Nesse processo, ao pensar nos conceitos de recusa, objeto fetiche e objeto transicional, discutimos os caminhos possíveis e as saídas construídas por psicanalistas durante a pandemia. Concluímos que havia uma continuidade do ser psicanalista em relação ao setting psicanalítico que, com o impacto pandêmico, foi interrompida ou, pelo menos, colocada diante de uma situação que pudesse interrompê-la, gerando múltiplos questionamentos, angústias, incertezas. Diante de tal condição, foi preciso lidar com as vivências de separação, com as falhas ambientais, com as descontinuidades, com a necessidade de se buscar um sentido de continuidade do ser pessoa e do ser profissional psicanalista, mesmo que por caminhos e meios diferentes do que era comum até então

ABSTRACT: This research aimed to understand the implications, continuities, and discontinuities in the psychoanalytic setting, both in its objective and subjective aspects, since the coronavirus pandemic. The psychoanalytic setting has changed with the pandemic, due to the requirement for social distancing between people to avoid contamination and perhaps even death, with restrictive measures such as the establishment of curfews, lockdowns, among others. Thus, the new reality imposed on the psychoanalytic clinic the need to migrate in-person to remote care in order to continue serving people, although most psychoanalysts were not prepared for this. From a methodological point of view, we adopted the psychoanalytic method and, with this perspective, we conducted semi-structured interviews with six psychoanalysts who, during the pandemic, experienced in their practices the issues related to care during this period. Based on the analysis of each of the interviews, we prepared metapsychological essays as a resource to express how the data were constructed. Through the essays, we were able to combine theory and technique to understand how the changes that occurred in the external and internal settings were assimilated by psychoanalysts. In this process, when thinking about the concepts of refusal, fetish object, and transitional object, we discussed the possible paths and solutions constructed by psychoanalysts during the pandemic. We concluded that there was a continuity of being a psychoanalyst in relation to the psychoanalytic setting that, with the impact of the pandemic, was interrupted or, at least, placed before a situation that could interrupt it, generating multiple questions, anxieties, and uncertainties. Faced with such a condition, it was necessary to deal with the experiences of separation, with environmental failures, with discontinuities, with the need to seek a sense of continuity of being a person and being a professional psychoanalyst, even if through different paths and means than what was common until then