O processo de socialização do consumidor refugiado : uma análise a partir da vulnerabilidade dos indivíduos e organizações de acolhimento

Abstract

RESUMO: Esta pesquisa pretende compreender o processo de socialização do consumidor refugiado e o impacto na sua autoconfiança como consumidores, considerando sua situação de vulnerabilidade e a participação das organizações de acolhimento nesse processo. Os refugiados constituem um conjunto de pessoas que foram forçados a saírem de seus países, em virtude de graves violações de seus direitos humanos, como: catástrofes climáticas, fome, guerras, escassez de recursos, conflitos internos, perseguições, divergências religiosas, questões étnicas, etc. O Brasil, hoje, é um dos países de destino de muitos refugiados, porém, ao chegarem, precisam se adaptar ao novo contexto social, cultural e econômico. Nesse processo de adaptação, a literatura apresenta algumas situações de vulnerabilidade dos refugiados. Contudo, pouca atenção tem sido dada às vulnerabilidades do consumidor refugiado e a participação das organizações de acolhimento no processo de socialização do consumidor refugiado. A entrada no mercado consumidor sem os conhecimentos e habilidades adequados, podem afetar a autoconfiança e resultar em decisões equivocadas de compra. Para conseguirem participar do mercado consumidor de forma adequada, seria importante que os refugiados passassem por uma capacitação em que eles possam ter contato com os conhecimentos oferecidos pela alfabetização de mercado, que é composta por conhecimentos e habilidades necessários para que possam participar desse novo mercado consumidor. Entretanto, a socialização do consumidor refugiado não ocorre de forma adequada e a participação das organizações de acolhimento, nesse processo de socialização do consumidor, ainda não está totalmente esclarecida. A pesquisa possui natureza qualitativa e interpretativa. A coleta dos dados foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas, com os agentes de socialização e pessoas refugiadas. Para a análise foram utilizadas as etapas propostas por Bardin (2011), com o auxílio do software Atlas TI. As principais conclusões que se chegou com o estudo foram: 1. A participação das organizações de acolhimento no processo de socialização do consumidor refugiado acaba ocorrendo de maneira informal, sem nenhum protocolo a ser seguido e, portanto, fica a critério do agente socializador ensinar, ou não, as habilidades, conhecimentos e atitudes necessárias para que o refugiado possa participar do mercado consumidor brasileiro, 2. O processo de socialização do consumidor refugiado acaba sendo exercido, também, por outros agentes socializadores, como os professores de português; 3. As organizações de acolhimento ainda não conseguem oferecer um curso que possa contribuir para a socialização dos consumidores refugiados; 3. Alguns refugiados demoram até dois anos para conseguir acesso a um cartão de crédito; 4. Devido a situação vulnerável em que se encontram, os refugiados são atraídos com mais facilidade por mensagens de marketing, que prometem grandes promoções e descontos; 5. Há falta de compreensão das informações dos rótulos dos produtos e falta de habilidades e de conhecimentos para buscar informações sobre os produtos que pretendem comprar; e 6. Alguns refugiados que sofreram algum tipo de golpe ou prejuízo em situações de compras, não procuram os seus direitos, sendo um dos motivos dessa omissão, o medo de serem mandados de volta para o país de origem. Diante disso, a pesquisa conclui que a comunidade científica em conjunto com as organizações de acolhimento, poderiam, em pesquisas futuras, desenvolver e estudar a implementação de um curso de alfabetização de mercado para refugiados e imigrantes.