Musculação e identidade : um panorama a partir das (auto)biografias de movimento

Abstract

RESUMO: Este estudo analisou o desenvolvimento das biografias e autobiografias de movimento em praticantes de musculação em uma academia de Maringá, no Paraná, relacionada à maneira que essa vivência impacta a construção de identidade e os processos reflexivos dos indivíduos. A pesquisa, de abordagem qualitativa, foi realizada em uma academia de musculação em Maringá (PR), com 14 participantes (7 homens e 7 mulheres) entre 19 e 32 anos. A coleta de dados foi feita por meio de entrevistas semiestruturadas, cujas respostas foram analisadas por meio da análise temática. Os principais achados revelam que o processo de aprendizagem na musculação se estrutura inicialmente com base em orientações de profissionais (biografia de movimento), evoluindo para uma busca autônoma por conhecimento (autobiografia de movimento). Essa transição evidencia um percurso reflexivo em que o corpo se torna projeto pessoal e expressão de identidade. A musculação emergiu como um espaço de autoconhecimento, disciplina e ressignificação de experiências, influenciando dimensões afetivas e sociais da vida dos praticantes. Além disso, a prática foi identificada como mecanismo de enfrentamento de desafios emocionais e promoção do autocuidado. Apesar da valorização da autonomia, os participantes relataram tensões diante de padrões estéticos impostos socialmente, o que aponta para conflitos entre agência pessoal e normatividade cultural. Conclui-se que a musculação opera como uma prática que ultrapassa os limites físicos, tornando-se um campo simbólico de (re)construção identitária e desenvolvimento subjetivo. A articulação entre teoria da movência e modernidade reflexiva mostra-se eficaz para compreender como corpo, movimento e identidade se entrelaçam nos cotidianos contemporâneos.

ABSTRACT: This study analyzed the development of movement biographies and autobiographies among bodybuilding practitioners at a gym in Maringá, Paraná, focusing on how this experience impacts identity construction and individuals' reflective processes. The research, with a qualitative approach, was conducted in a bodybuilding gym in Maringá (PR), with 14 participants (7 men and 7 women) aged between 19 and 32 years. Data collection was carried out through semi-structured interviews, and the responses were analyzed using thematic analysis. The main findings reveal that the learning process in bodybuilding is initially structured based on guidance from professionals (movement biography), evolving into an autonomous search for knowledge (movement autobiography). This transition highlights a reflective path in which the body becomes a personal project and an expression of identity. Bodybuilding emerged as a space for self-knowledge, discipline, and the re-signification of experiences, influencing the affective and social dimensions of practitioners' lives. Additionally, the practice was identified as a mechanism for coping with emotional challenges and promoting self-care. Despite valuing autonomy, participants reported tensions regarding socially imposed aesthetic standards, pointing to conflicts between personal agency and cultural normativity. It is concluded that bodybuilding operates as a practice that transcends physical limits, becoming a symbolic field for identity (re)construction and subjective development. The articulation between the theory of movência and reflexive modernity proves effective in understanding how body, movement, and identity intertwine in contemporary daily life.