Territorialidade e inclusão : um estudo com graduandos com deficiência física na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)

Abstract

RESUMO: A pesquisa tem como objetivo compreender o processo de territorialização sob a perspectiva dos graduandos com deficiência física na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), considerando as políticas inclusivas de acesso e permanência adotadas pela instituição. A UESB instituiu a política de ações afirmativas em 2008, compreendendo a implantação do programa de assistência e permanência estudantil e a política de cotas para ingresso nos cursos de graduação. Desde então, a universidade passou a receber alunos com deficiência, o que implicou na adoção de novas práticas educativas, adequações de infraestrutura, criação de núcleos de apoio e ampliação das políticas de permanência. Contudo, tais medidas não asseguram, necessariamente, a efetiva apropriação do território universitário por esses estudantes. A investigação fundamenta-se em concepções de território formuladas por geógrafos brasileiros, que compreendem o processo de territorialização como fruto das interações sociais, marcadas por relações de poder e expressas em múltiplas dimensões: econômica, política, cultural e natural. A abordagem adotada assume caráter qualitativo e delineamento descritivo. Os dados foram coletados por meio de entrevistas, observações e análise documental, com suporte do software ATLAS.ti para organização e exploração das informações. A delimitação para graduandos com deficiência física deve-se às dificuldades operacionais de adaptação do roteiro de entrevistas às demais deficiências representadas na instituição, além da necessidade de cumprimento do cronograma da pesquisa. Os participantes foram selecionados por acessibilidade ou conveniência, considerando os critérios previamente estabelecidos e a anuência dos envolvidos. A análise de conteúdo guiou o tratamento dos dados, inicialmente organizados em cinco categorias: poder, resistência, afeto, segregação e contradição, às quais se somou, no decorrer da análise, a categoria "inclusão". Os resultados revelam que o processo de territorialização dos graduandos com deficiência física se constrói sob tensões constantes: ao mesmo tempo em que se observam experiências de acolhimento e acesso, persistem barreiras estruturais, pedagógicas e atitudinais que limitam a apropriação plena do território universitário. A contradição entre inclusão e exclusão se apresenta como elemento central na trajetória acadêmica desses sujeitos, evidenciando o caráter dinâmico, relacional e afetivo do processo de apropriação territorial. O estudo busca contribuir para o debate sobre inclusão no ensino superior e para a formulação de políticas públicas mais eficazes, comprometidas com a justiça social e a equidade.

ABSTRACT: This research aims to understand the process of territorialization from the perspective of undergraduate students with physical disabilities at the State University of Southwest Bahia (UESB), considering the institution's inclusive policies for access and retention. UESB implemented its affirmative action policy in 2008, which included the establishment of a student assistance and retention program and the adoption of quotas for admission to undergraduate courses. Since then, the university has welcomed students with disabilities, which has required the adoption of new educational practices, infrastructure adjustments, creation of support centers, and the expansion of retention policies. However, these measures do not necessarily ensure the effective appropriation of the university territory by these students. The investigation is grounded in concepts of territory formulated by Brazilian geographers, who understand the process of territorialization as resulting from social interactions marked by power relations and expressed through multiple dimensions-economic, political, cultural, and natural. The study adopts a qualitative approach with a descriptive design. Data were collected through interviews, observations, and document analysis, supported by the software ATLAS.ti for data organization and exploration. The focus on students with physical disabilities was due to operational difficulties in adapting the interview script to the various types of disabilities represented at the institution, as well as the need to meet the research timeline. Participants were selected based on accessibility or convenience, considering pre-established criteria and the consent of those involved. Content analysis guided the data interpretation, initially structured around five categories: power, resistance, affection, segregation, and contradiction. During the analysis process, the category "inclusion" also emerged. The results show that the territorialization process for students with physical disabilities is built amid constant tensions: while experiences of access and inclusion are present, persistent structural, pedagogical, and attitudinal barriers limit full appropriation of the university territory. The contradiction between inclusion and exclusion appears as a central element in these students' academic trajectories, revealing the dynamic, relational, and affective nature of territorial appropriation. This study seeks to contribute to the discussion on inclusion in higher education and to the development of more effective public policies committed to social justice and equity.