Eva Perón, a morte, a memória e os crivos antiperonistas no jornal tribuna da imprensa (1952-1964)

Abstract

RESUMO: Maria Eva Duarte (1919-1952) desempenhou alguns papeis no cenário artístico, mas foi a partir de sua inserção no universo político, ocorrida por intermédio de seu casamento com Juan Domingo Perón (1895-1974), em 1945, que Evita, como passou a ser carinhosamente reconhecida pelos/as trabalhadores/as, exerceu a sua principal função: a de primeira-dama da Argentina. Sua atuação voltada, entre outras coisas, para a ajuda social e a conquista de direitos políticos para as mulheres, garantiu-lhe grande admiração e popularidade, de modo que a sua morte, sucedida em 1952, gestou uma ferida no país, a qual corporificou a mitificação que vinha se processando sobre a sua personagem desde antes mesmo de seu falecimento. Dotando de rosto e beleza o peronismo, Eva converteu-se em símbolo desse projeto político, o qual buscou torná-la imortal por meio do embalsamento e da rememoração. Por outro lado, o antiperonismo - que, assim como a devoção à Evita -, atravessava fronteiras e disseminava-se pelo Brasil, mediante o jornal Tribuna da Imprensa (1949-1964), tentava à todo custo, descredibilizar a imagem dessa primeira-dama, vinculando a sua figura à devassidão, imoralidade e corrupção, especialmente após 1955, ano do golpe militar argentino que alijou Perón do poder e buscou apagar todo remanescente peronista do país. Posto isto, examinou-se como estes ataques à Evita significavam, na verdade, uma forma de deslegitimar o peronismo, pois fazendo isso, parecia possível vilipendiar o getulismo, grande adversário político do veículo comunicacional em questão. Então, pensando nos intercâmbios entre Brasil e Argentina, analisou-se o protagonismo de Evita no peronismo - o que explica as ofensivas direcionadas à ela -, e, para isso, realizou-se um estudo acerca da trajetória de vida de Eva, atentando-se para algumas releituras sobre esta primeira-dama, como é o caso das narrativas dos pesquisadores Nicholas Fraser e Marysa Navarro em Eva Peron: la verdad de un mito (1982); e dos jornalistas Tomás Eloy Martínez, em Santa Evita (1996), e Alicia Dujovne Ortiz, em Eva Perón: a madona dos descamisados (1997), as quais foram confrontadas com o conteúdo do jornal supracitado, no intuito de compreender os elementos político-sociais que foram medulares na criação e solidificação do "mito evita", e na monumentalização da memória sobre essa primeira-dama

ABSTRACT: Maria Eva Duarte (1919-1952) played some roles on the artistic scene, but it was after she entered the political sphere, through her marriage to Juan Domingo Perón (1895-1974) in 1945, that Evita, as she became affectionately known by the workers, played her main role: first lady of Argentina. Her work, among other things, focused on social aid and achieving political rights for women, earned her great admiration and popularity, so that her death in 1952 created a wound in the country, which embodied the mythologizing that had been taking place about her character even before her passing. Giving Peronism a face and beauty, Eva became a symbol of this political project, which sought to make her immortal through embalming and remembrance. On the other hand, anti-Peronism which, like the devotion to Evita, crossed borders and spread to Brazil through the newspaper Tribuna da Imprensa (1949-1964) sought at all costs to discredit the image of the First Lady, associating her figure with debauchery, immorality, and corruption. This intensified especially after 1955, the year of the Argentine military coup that ousted Perón from power and aimed to erase all remnants of Peronism from the country. Given this, it was examined how these attacks on Evita were, in fact, a way to delegitimize Peronism. By doing so, it seemed possible to vilify Getulism, the major political adversary of the media outlet in question. Thus, thinking about the exchanges between Brazil and Argentina, Evita's leading role in Peronism was analyzed - which explains the offenses directed at her - and, to this end, a study was conducted about Eva's life trajectory, paying attention to some reinterpretations of this first lady, such as the narratives of the researchers Nicholas Fraser and Marysa Navarro in Eva Peron: la verdad de un mito (1982); and journalists Tomás Eloy Martínez, in Santa Evita (1996), and Alicia Dujovne Ortiz, in Eva Perón: la madona de los descamisados (1997), which were confronted with the content of the aforementioned newspaper, in order to understand the political-social elements that were key in the creation and solidification of the 'Evita myth', and in the monumentalization of the memory about this first lady