"Foi você que escolheu essa vida de parto, agora você tem que aguentar" : reflexões sobre a violência obstétrica no Brasil a partir do documentário O Renascimento do Parto 2 (2018)

Abstract

RESUMO: Esta dissertação investigou, a partir do documentário O Renascimento do Parto 2 (2018), como a violência obstétrica se manifesta na assistência ao parto no Brasil, evidenciando o descompasso entre as diretrizes das políticas públicas de humanização e a realidade enfrentada pelas mulheres ao longo da gestação, do parto e do pós-parto. Por meio da articulação entre relatos de mulheres e vozes técnico-científicas, o filme se configura como uma denúncia sensível e politicamente orientada, que desafia o silêncio imposto às experiências de dor, desamparo e desrespeito vividas no parto. A análise revelou que a violência obstétrica se sustenta em estruturas de poder enraizadas no patriarcado, no racismo institucional e na hierarquização dos saberes, sendo exercida por meio de mecanismos disciplinares sobre os corpos femininos. A linguagem cinematográfica transforma relatos individuais em memória coletiva, contribuindo para uma escuta pública do sofrimento e para a construção de um campo discursivo que reivindica reconhecimento e transformação. Apesar de sua potência política, o documentário apresenta limites representacionais, como a centralidade de experiências brancas e de classe média, produzindo um recorte que silencia vivências marcadas pela intersecção entre racismo, pobreza e exclusão institucional. Ainda assim, ao romper o pacto de silêncio e inscrever essas histórias no espaço público, O Renascimento do Parto 2 fortalece a luta por um modelo de assistência que valorize a autonomia e o respeito à dignidade das mulheres

ABSTRACT: This dissertation investigated, through the documentary O Renascimento do Parto 2 (2018), how obstetric violence manifests in childbirth care in Brazil, highlighting the gap between the guidelines of public policies on humanization and the reality faced by women throughout pregnancy, childbirth, and the postpartum period. By articulating women's testimonies with technical-scientific voices, the film is configured as a sensitive and politically oriented denunciation that challenges the silence imposed on experiences of pain, neglect, and disrespect in childbirth. The analysis revealed that obstetric violence is sustained by power structures rooted in patriarchy, institutional racism, and the hierarchy of knowledge, exercised through disciplinary mechanisms over women's bodies. The cinematographic language transforms individual accounts into collective memory, contributing to a public listening of suffering and to the construction of a discursive field that demands recognition and transformation. Despite its political potency, the documentary presents representational limits, such as the centrality of white and middle-class experiences, producing a framework that silences realities marked by the intersection of racism, poverty, and institutional exclusion. Even so, by breaking the pact of silence and inscribing these stories in the public sphere, O Renascimento do Parto 2 strengthens the struggle for a model of care that values women's autonomy and respect for their dignity