O antifascismo no Brasil entre os séculos XX e XXI : memória e diálogos

Abstract

RESUMO: A presente dissertação investiga o movimento antifascista no Brasil contemporâneo, destacando sua relevância enquanto expressão política de resistência que ganhou visibilidade nos últimos anos, especialmente a partir das manifestações contrárias ao governo Bolsonaro e do retorno dos termos "fascista" e "antifascista" no debate público. Em meio a um cenário de acirramento das tensões políticas e do avanço da extrema direita, o antifascismo emergiu como prática contestatória articulada por diferentes sujeitos, redes e coletivos, mobilizando memórias históricas e repertórios de luta para enfrentar novas formas de autoritarismo. O estudo parte da hipótese de que o antifascismo atual não é uma mera reedição do passado, mas uma reconfiguração que resgata memórias históricas e práticas políticas do século XX para confrontar expressões contemporâneas do autoritarismo, como o revisionismo histórico, a militarização do cotidiano e o ataque às instituições democráticas. Para isso, foram adotados dois recortes históricos principais: o primeiro, entre 1920 e 1945, abarca a primeira formação do antifascismo no Brasil a partir da atuação de imigrantes italianos e frentes populares durante a Segunda Guerra Mundial e o auge da Ação Integralista Brasileira; o segundo, entre 1985 e 2025, compreende o período da redemocratização até a recente reconfiguração da luta antifascista diante da crise democrática e da ascensão da extrema direita. A pesquisa concentrasse especialmente no estado de São Paulo, privilegiando coletivos e experiências locais, embora dialogue inevitavelmente com outras regiões do país, dada a dimensão nacional do fenômeno analisado. Por meio de uma abordagem qualitativa e histórico-compreensiva, busca-se compreender quem são os sujeitos que compõem os coletivos antifascistas, como se organizam, de que maneira interpretam o fenômeno do fascismo no presente e quais estratégias de ação utilizam. Foram analisadas fontes primárias, como publicações de época em jornais militantes, materiais produzidos em redes sociais e entrevistas com membros de três coletivos relevantes: Ação Antifascista São Paulo (AFA-SP), Coringão Antifa (C16) e Palmeiras Antifascista (P16). O objetivo final é compreender as reconfigurações do antifascismo no Brasil contemporâneo, analisando seus sujeitos, interpretações, estratégias e vínculos com a memória histórica, enquanto prática de resistência diante da crescente naturalização do autoritarismo em sua forma neoliberal e tecnocrática

ABSTRACT: This dissertation investigates the contemporary antifascist movement in Brazil, highlighting its relevance as a political expression of resistance that gained visibility in recent years, especially through protests against the Bolsonaro government and the renewed presence of the terms "fascist" and "antifascist" in public debate. Amid escalating political tensions and the rise of the far-right, antifascism has emerged as a form of contestation articulated by various actors, networks, and collectives, mobilizing historical memory and repertoires of struggle to confront new forms of authoritarianism. The study is based on the hypothesis that current antifascism is not a mere repetition of the past, but a reconfiguration that reclaims historical memory and political practices from the twentieth century to confront contemporary expressions of authoritarianism, such as historical revisionism, the militarization of everyday life, and attacks on democratic institutions. Two main historical periods were adopted: the first, from 1920 to 1945, addresses the initial formation of antifascism in Brazil through the actions of Italian immigrants and popular fronts during World War II and the rise of the Brazilian Integralist Action; the second, from 1985 to 2025, covers the period from re-democratization to the recent reconfiguration of antifascist struggle in response to the democratic crisis and the growth of the far-right. The research focuses primarily on the state of São Paulo, emphasizing local collectives and experiences, while inevitably engaging with other regions of the country, given the national scope of the phenomenon. Through a qualitative and historical-comprehensive approach, the study aims to understand who the ant ifascist actors are, how they organize, how they interpret the contemporary meaning of fascism, and which strategies they employ. Primary sources were analyzed, including militant newspapers, materials produced on social media, and interviews with members of three key collectives: Ação Antifascista São Paulo (AFA-SP), Coringão Antifa (C16), and Palmeiras Antifascista (P16). The final objective is to understand the reconfigurations of antifascism in contemporary Brazil by analyzing its actors, interpretations, strategies, and connections to historical memory, as a practice of resistance in the face of the growing normalization of neoliberal and technocratic authoritarianism