Registros pandêmicos de pausas e travessias na educação : um panorama dos processos de medicalização a partir das vivências de professores(as)

Abstract

RESUMO: O presente estudo tem por objetivo analisar os impactos da pandemia de COVID-19 nos processos de medicalização da educação, a partir das vivências de professores(as) de Escolas Públicas de Educação Básica do noroeste do Estado de Minas Gerais. O estudo desenvolveu-se a partir de duas frentes, sendo elas: a pesquisa bibliográfica, com o objetivo de fazer um resgate dos processos de ensino e aprendizagem presentes em nosso tempo, entendendo o que tem sido esperado dos e pelos professores diante de tantas mudanças e avanços tecnológicos no campo da Educação. Ainda durante essa fase, buscou-se compreender como diversas políticas públicas - ou a falta delas - têm facilitado ou dificultado o trabalho de professores diante de um contexto de caos político e econômico, agravado pela pandemia de COVID-19. A outra frente envolveu a pesquisa de campo, com a participação de 7 professores que atuam em diferentes escolas públicas de Educação Básica localizadas numa mesma cidade do Estado de Minas Gerais. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas individuais semiestruturada, composta por questões abertas para que fossem respondidas pelos profissionais. Os dados foram analisados a partir dos fundamentos teóricos da Psicologia Histórico-Cultural, que tem suas bases epistemológicas no Materialismo Histórico-dialético proposto por Karl Marx (1818-1883), tal método compreende os fenômenos estudados como inseridos em um determinado contexto histórico e cultural, almejando encontrar as contradições existentes nos mesmos. Os resultados apontam que a pandemia potencializou os processos de medicalização da educação, com o fortalecimento de um olhar clínico tanto sobre os alunos quanto sobre os próprios docentes. Constatou-se, ainda, o aprofundamento das desigualdades educacionais, a ampliação da presença da Psicologia Escolar nas instituições de ensino, a redefinição dos espaços e tempos escolares e a emergência dos afetos como dimensão central da prática pedagógica. Também verificou-se que a culpabilização das vivências docentes foi um dos principais fatores associados ao sofrimento e o adoecimento, contribuindo, de forma significativa, para a intensificação dos processos de medicalização no contexto educacional. Assim, conclui-se que o caminho para a desmedicalização da educação exige a construção coletiva de práticas pedagógicas carregadas de sentido, o fortalecimento das redes de apoio institucional e a formação crítica e comprometida de todos os sujeitos envolvidos no processo educativo

ABSTRACT: This study aims to analyze the impacts of the COVID-19 pandemic on the processes of the medicalization of education, based on the experiences of teachers working in public basic education schools in the northwest region of the state of Minas Gerais, Brazil. The research was conducted through two main approaches: first, a literature review was carried out with the objective of tracing the trajectory of teaching and learning processes in contemporary times, seeking to understand what has been expected of and by teachers amidst numerous changes and technological advancements in the field of education. During this phase, the study also aimed to comprehend how various public policies-or the lack thereof-have either facilitated or hindered the work of educators in a context marked by political and economic instability, further exacerbated by the COVID-19 pandemic. The second approach involved field research, which included the participation of seven teachers from different public basic education schools located in the same city in the state of Minas Gerais. Data were collected through individual semi-structured interviews composed of open-ended questions, allowing participants to respond freely. The data analysis was grounded in the theoretical framework of Historical-Cultural Psychology, which is epistemologically based on Historical-Dialectical Materialism as proposed by Karl Marx (1818-1883). This methodology understands the phenomena studied as situated within a specific historical and cultural context, aiming to uncover the contradictions inherent within them. The findings indicate that the pandemic intensified the processes of medicalization in education, reinforcing a clinical gaze directed both at students and at the teachers themselves. The study also identified a deepening of educational inequalities, an increased presence of School Psychology in educational institutions, a redefinition of school spaces and times, and the emergence of emotions and affectivity as a central dimension of pedagogical practice. Furthermore, the research revealed that the blaming of teachers' lived experiences was one of the main factors associated with suffering and psychological distress, significantly contributing to the intensification of medicalization processes in the educational context. Therefore, the study concludes that the path toward the de-medicalization of education requires the collective construction of meaningful pedagogical practices, the strengthening of institutional support networks, and the critical and committed training of all individuals involved in the educational process