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Autor(es): Fialho, Laís Azevedo
Orientador: Serafim, Vanda Fortuna
Título: O axé da minha nação vem do meu barração : cosmopercepções amefricanas no Encanto do Pina (Recife - 1980 a 2025)
Banca: Katrib, Cairo Mohamad Ibrahim
Banca: Medeiros, Lucas Gomes de
Banca: Meira, Thomas Antônio Burneiko
Banca: Costa, Daniel Lula
Palavras-chave: Maracatu;Candomblé;Religiosidade afro-brasileira
Data do documento: 2025
Editor: Universidade Estadual de Maringá
Citação: FIALHO, Laís Azevedo. O axé da minha nação vem do meu barração: cosmopercepções amefricanas no Encanto do Pina (Recife - 1980 a 2025). 2025. 310 f. Tese (doutorado em História) - Universidade Estadual de Maringá, 2025., Maringá, PR.
Abstract: RESUMO: Esta pesquisa investigou as múltiplas leituras sobre o Maracatu-nação no Encanto do Pina, situado em um terreiro de tradição Nagô Egbá e Jurema Sagrada, em uma comunidade majoritariamente negra no Recife-PE. Liderada por Iyás e regida por Iyabás, a nação é analisada desde sua fundação, em 1980, até o ano de 2025. A pesquisa fundamenta-se em fontes orais e na observação participante, articuladas à análise de jornais, fotografias, documentários e mídias sociais. A abordagem analítica resulta do cruzamento de referenciais epistemológicos. Metodologicamente, apoio-me em discussões sobre saberes localizados, História Oral e observação participante, a partir de autoras e autores como Juana Elbein (1982), Donna Haraway (1995), Alessandro Portelli (1997), José D'Assunção Barros (2009) e Vagner Gonçalves (2018). Para refletir sobre as historicidades das expressões ancestrais nas comunidades amefricanas, recorro, especialmente, a Oyeronke Oyewumi (2016), Lélia Gonzalez (1988), Beatriz Nascimento (1982), Stuart Hall (1996), Muniz Sodré (2017) e Nego Bispo (2015). Com o intuito de demonstrar como as formas de ver o mundo dos maracatuzeiros foram tratadas pela literatura temática, analiso as representações do Maracatu-nação em narrativas canônicas de folcloristas e em produções mais recentes, sobretudo de historiadores e antropólogos. Para evidenciar as concepções de mundo dos atores sociais que mantêm essa tradição e que coexistem com as lógicas ocidentais, aqui nomeadas como "cosmopercepções amefricanas" desenvolvo discussões sobre as Iyás que lideraram e seguem organizando a nação até os dias atuais". Apresento, também, aspectos históricos das práticas religiosas do Candomblé Nagô Egbá e da Jurema Sagrada, tal como são vivenciadas no Ylê Axé Oxum Deym. Para isso, abordo a constituição do panteão de entidades e divindades, bem como as dinâmicas de organização hierárquica e os sistemas rituais que estruturam essas tradições, com atenção às suas materialidades, cânticos e expressões simbólicas. Demonstro como essas práticas são reatualizadas na nação, articulando também as sociabilidades que se estendem para além do tocar, assentadas na experiência comunitária. Contextualizo como essas dinâmicas reatualizam os sentidos da calunga e da corte real sublinhando o que comumente não é narrado: as preparações para as obrigações rituais, as estratégias de mobilização de recursos para colocar o Maracatu na rua, os bastidores dos desfiles, o cotidiano das Iyás e suas histórias, bem como as estratégias comunitárias de permanência no território e as formas de transmissão dos saberes. Narro a forma como a história do Encanto do Pina é lembrada, contada e reinventada por meio do Carnaval, demonstrando como se constrói o caráter interpretativo e original do carnavalesco para essa comunidade, especialmente a partir do corpo, sendo um ritual que afirma, reinventa e expressa as cosmopercepções, modos de ser, de crer e de contar histórias próprios dessa comunidade. A partir das análises realizadas, demonstro que, no Encanto do Pina, há múltiplos modos de viver o Maracatu-nação e conceber o axé, os Orixás, a Jurema, o senso de comunidade, as calungas, os tambores e a corte real. Proponho, como tese, que a encruzilhada de lógicas culturais e a confluência de múltiplas cosmopercepções amefricanas, que informam os sentidos de nação, é que sustentam a vivacidade dessa tradição, fazendo com que ancestralidade e encantamento coexistam com a violência racial, em uma prática de recusa à total aceitação da colonialidade.
ABSTRACT: This research investigates multiple interpretations of Maracatu-nação at Encanto do Pina, located in a terreiro of Nagô Egbá tradition and Sacred Jurema, within a predominantly Black community in Recife, Pernambuco. Led by Iyás and guided by Iyabás, the nação is analyzed from its founding in 1980 through to the year 2025. The research is grounded in oral sources and participant observation, combined with the analysis of newspapers, photographs, documentaries, and social media material. The analytical approach results from the intersection of various epistemological frameworks. Methodologically, I draw on discussions around situated knowledge, Oral History, and participant observation, based on the works of authors such as Juana Elbein (1982), Donna Haraway (1995), Alessandro Portelli (1997), José D'Assunção Barros (2009), and Vagner Gonçalves (2018). To reflect on the historicities of ancestral expressions within Amefrican communities, I analyze Oyeronke Oyewumi (2016), Lélia Gonzalez (1988), Beatriz Nascimento (1982), Stuart Hall (1996), Muniz Sodré (2017), and Nego Bispo (2015) ideas. Aiming to show how maracatuzeiros' ways of seeing the world have been addressed in the thematic literature, I examine representations of Maracatu-nação in canonical folklorists' narratives and in more recent works, by historians and anthropologists. To highlight the worldviews of the social actors who sustain this tradition while coexisting with Western logics - something I hereby termed "Amefrican cosmoperceptions" - I develop discussions about the Iyás who have led, and who continue to organize, the nação up to the present day. I also present historical aspects of the religious practices of Candomblé Nagô Egbá and Sacred Jurema, as they are experienced at Ylê Axé Oxum Deym. To this end, I address the formation of the pantheon of entities and deities, as well as the dynamics of hierarchical organization and the ritual systems that structure these traditions, with attention to their materialities, songs, and symbolic expressions. I demonstrate how these practices are reactivated within the nação, while also articulating the forms of sociability that extend beyond drumming, rooted in community experience. I contextualize how these dynamics renew the meanings of calunga and the royal court, highlighting what is commonly left untold: the preparations for ritual obligations, the strategies for mobilizing resources to bring the Maracatu to the streets, the behind-the-scenes of the parades, the daily lives and stories of the Iyás, as well as community strategies for staying on the land and the modes of knowledge transmission. I narrate how the history of Encanto do Pina is remembered, told, and reinvented through Carnival, demonstrating how the interpretative and original character of the carnavalesco is constructed within this community-especially through the body-as a ritual that affirms, reimagines, and expresses the cosmoperceptions, ways of being, believing, and storytelling unique to this group. Based on the analyses conducted, I show that within Encanto do Pina there are multiple ways of experiencing Maracatu-nação and conceiving axé, the Orixás, Jurema, the sense of community, the calungas, the drums, and the royal court. As a central thesis, I propose that it is the crossroads of cultural logics and the confluence of multiple Amefrican cosmoperceptions, which shape the meanings of nação, that sustain the vitality of this tradition-allowing ancestry and enchantment to coexist with racial violence, in a practice that resists against the full acceptance of coloniality.
Descrição: Orientador: Profa. Dra. Vânia Fortuna Serafim
Tese (doutorado em História) - Universidade Estadual de Maringá, 2025.
URI: http://repositorio.uem.br:8080/jspui/handle/1/9490
Aparece nas coleções:3.6 Tese - Ciências Humanas, Letras e Artes (CCH)

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