Tensões entre psicanálise e religião : as complexidades desta relação na história e na formação psicanalítica

Abstract

RESUMO: Esta pesquisa abordou a relação de Freud com a religião - em sua vida pessoal, em sua formulação teórica e na história do movimento psicanalítico - com o objetivo de refletir sobre os problemas existentes nas tentativas contemporâneas de conciliar a psicanálise com a religião neopentecostal no Brasil. Analisou-se a presença do fenômeno religioso na trajetória de Freud e no processo de institucionalização da psicanálise, as influências do Iluminismo e do filósofo Ludwig Feuerbach, bem como as relações de Freud com Viena e com sua família de origem judaica. Destacaram-se ainda as amizades com Jung e Pfister, que ofereceram contribuições significativas para a compreensão freudiana da religião. Expomos o modo como Freud compreendeu a religião em seus escritos, concebendo-a como uma neurose e uma ilusão, relacionada ao desamparo infantil do ser humano e ao anseio por uma figura paterna idealizada. Observou-se, ainda, sua defesa da ciência em detrimento de uma visão de mundo religiosa. Refletiu-se também sobre os impasses institucionais associados à percepção da psicanálise como uma seita, a veneração construída em torno da figura de Freud e os fechamentos dogmáticos no campo psicanalítico que dificultam o próprio avanço da psicanálise. Por fim, abordaram-se as tensões entre psicanálise e religião na contemporaneidade, com destaque para a proposta de uma ?psicanálise cristã? e sua inserção no cenário psicanalítico e político brasileiro. Analisou-se o interesse neoliberal presente em setores do meio evangélico pentecostal em conciliar psicanálise com religião e espiritualidade, bem como as consequências dessa articulação problemática - especialmente no que se refere aos desafios da formação psicanalítica e às complexidades envolvidas na sua institucionalização no Brasil.

ABSTRACT: This research addressed Freud's relationship with religion - in his personal life, in his theoretical formulation, and in the history of the psychoanalytic movement - with the aim of reflecting on the problems existing in contemporary attempts to reconcile psychoanalysis with the neo-Pentecostal religion in Brazil. The study analyzed the role of religion in Freud's career and the institutionalization of psychoanalysis, the influences of the Enlightenment and the philosopher Ludwig Feuerbach, and Freud's relationships with Vienna and his Jewish family. It also highlighted his friendships with Jung and Pfister, who made significant contributions to Freud's understanding of religion. We explore how Freud understood religion in his writings, conceiving it as a neurosis and an illusion, linked to human childhood helplessness and the longing for an idealized father figure. We also observe his defense of science over a religious worldview. There was also reflection on the institutional impasses associated with the perception of psychoanalysis as a sect, the veneration built around the figure of Freud and the dogmatic closures in the psychoanalytic field that hinder the advancement of psychoanalysis itself. Finally, the discussion addressed the tensions between psychoanalysis and religion in contemporary times, highlighting the proposal for a "Christian psychoanalysis" and its insertion into the Brazilian psychoanalytic and political landscape. The discussion also analyzed the neoliberal interest within sectors of the Pentecostal evangelical community in reconciling psychoanalysis with religion and spirituality, as well as the consequences of this problematic articulation - especially regarding the challenges of psychoanalytic training and the complexities involved in its institutionalization in Brazil.