O trabalho educativo na educação infantil e a possibilidade de desenvolvimento da representação ideativa de palavra

Abstract

RESUMO: O desenvolvimento da escrita na ontogênese tem início logo que surgem os primeiros signos visuais e se sustenta na mesma história natural do nascimento dos signos. Ou seja, para aprender a escrever é preciso que a criança aprenda a dominar os signos. Sendo assim, a linguagem escrita não se inicia com o ensino das letras (formas e sons) durante a alfabetização, mas sim desde as primeiras interações da criança com os adultos durante a Educação Infantil. Desse modo, para que se compreenda como se desenvolve a linguagem escrita, é preciso que o percurso do desenvolvimento da linguagem oral no início da vida da criança seja compreendido. Considerando que a linguagem por signos é o que diferencia o homem dos demais animais, transforma seu pensamento e possui papel fundamental na sua humanização, o objetivo da pesquisa é a investigação do processo de internalização da linguagem e em como esta função se torna instrumento psíquico da criança, tornando-a capaz de direcionar o seu próprio comportamento e de realizar operações com elementos que não se encontram em seu contexto imediato. Ao estudarmos o curso da construção ideativa de palavra e como o ensino sistematizado enriquece esta representação para a criança, promovendo os processos de generalização e abstração, pretendemos mostrar que apropriação dos signos não se dá por meio de saltos espontâneos, que culminam futuramente na aprendizagem da escrita. Neste sentido, o objeto de investigação é o processo de representação que vai do gesto à palavra, com destaque para a internalização e para a construção ideativa desta. Isto posto, ensinar a escrita na Educação Infantil significa desenvolver a linguagem oral da criança e a apropriação das palavras enquanto signos. Nesta direção esta tese se propõe a elucidar como ocorre este processo no âmbito escolar na primeira infância. Defendemos a seguinte tese: ensinar a escrita na Educação Infantil é trabalhar na direção da complexificação do psiquismo, organizando o ensino para desenvolver linguagem e pensamento. Para tanto, a proposta é a de uma investigação de campo. A coleta de dados da pesquisa de campo foi realizada por meio de observações em sala de aula, com o intuito de analisar os desdobramentos das ações de crianças e adultos concretos em relação ao uso dos signos, em um contexto real de escolaridade. No ano de 2022 foram realizadas três observações de aulas de uma turma de Infantil 2 de um Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI), com duração média de uma hora cada. Foram realizadas entrevistas com todas as profissionais que atendiam a turma para levantamento de informações acerca da formação das mesmas e das percepções delas acerca do desenvolvimento dos alunos. As entrevistas e as observações em sala foram gravadas em áudio e, posteriormente, transcritas. A partir das transcrições, foram estabelecidas categorias em dois eixos distintos, um referente às intervenções das professoras e outro às respostas das crianças. Destacamos dos dados obtidos a carência de ações educativas planejadas para a internalização do signo na criança, necessária para o futuro desenvolvimento da escrita, bem como a necessidade de melhor conhecimento das professoras acerca do desenvolvimento infantil, de modo que possam oferecer aos alunos oportunidades de ensino que resultem no desenvolvimento do psiquismo.

ABSTRACT: The development of writing in ontogenesis begins as soon as the first visual signs appear and is based on the same natural history of the emergence of signs. That is, to learn to write, the child must learn to master signs. Therefore, written language does not begin with the teaching of letters (shapes and sounds) during literacy, but rather from the child's first interactions with adults during early childhood education. Therefore, to understand how written language develops, it is necessary to understand the developmental trajectory of oral language early in a child's life. Considering that sign language is what differentiates humans from other animals, transforms their thinking, and plays a fundamental role in their humanization, the objective of this research is to investigate the process of language internalization and how this function becomes a psychic instrument for children, enabling them to direct their own behavior and perform operations with elements not found in their immediate context. By studying the course of the ideational construction of words and how systematic teaching enriches this representation for children, promoting the processes of generalization and abstraction, we aim to demonstrate that the appropriation of signs does not occur through spontaneous leaps, culminating in the future in the learning of writing. In this sense, the object of investigation is the process of representation that goes from gesture to word, with an emphasis on internalization and the ideational construction of the latter. Therefore, teaching writing in Early Childhood Education means developing children's oral language and the appropriation of words as signs. In this sense, this thesis aims to elucidate how this process occurs in the early childhood school environment. We defend the following thesis: teaching writing in Early Childhood Education involves working toward the complexification of the psyche, organizing instruction to develop language and thought. To this end, we propose a field study. Field research data collection was conducted through classroom observations, aiming to analyze the unfolding of the actions of specific children and adults regarding the use of signs in a real-life schooling context. In 2022, three classroom observations were conducted in a Pre-K 2 class at a Municipal Early Childhood Education Center (CMEI), each lasting an average of one hour. Interviews were conducted with all the professionals working in the class to gather information about their training and their perceptions of student development. The interviews and classroom observations were audiorecorded and later transcribed. Based on the transcriptions, categories were established along two distinct axes: one referring to the teachers' interventions and the other to the children's responses. From the data obtained, we highlight the lack of educational activities designed to internalize the sign in children, which is necessary for the future development of writing skills. We also highlight the need for teachers to better understand child development so they can offer students educational opportunities that foster psychological development.